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As primeiras atividades de reabilitação e estimulação visuais dos bebês com microcefalia estão programadas para janeiro e serão oferecidas no Centro Especializado em Reabilitação (CER) Menina dos Olhos da Fundação Altino Ventura (FAV), no bairro da Iputinga, Zona Oeste do Recife. Ontem a instituição avaliou a saúde ocular de 65 crianças (e suas mães) com suspeita da malformação congênita ou com diagnóstico confirmado da anomalia. Todas foram encaminhadas para atendimento no CER da FAV, um dos serviços de reabilitação do País onde será realizada estimulação precoce, seguindo o Protocolo de Atenção à Saúde para Microcefalia, lançado ontem pelo Ministério da Saúde.
“Acompanharemos todos os bebês avaliados no mutirão, inclusive aqueles cujos exames não apresentaram alteração visual. Consideramos que eles têm risco para desenvolver problemas oftalmológicos ao longo da infância. O ideal é que, no mínimo, passem por estimulação visual, mesmo que não sejam identificadas lesões nos primeiros meses após o nascimento”, diz a oftalmopediatra Liana Ventura, presidente da FAV. A médica reforça que espera contar com apoio da Secretaria Estadual de Saúde e, dessa maneira, fazer um planejamento para atender toda a demanda. “Precisamos aumentar o teto para contratar mais profissionais e ampliar os horários de atendimento.”
Durante o mutirão, os oftalmologistas e neuropediatras realizaram desde testes simples que fazem medida da visão a procedimentos complexos, como exames de fundo de olho. Os médicos perceberam, no atendimento, três alterações oftalmológicas na maioria dos bebês com microcefalia. “Estrabismo de causa neurológica, miopia e baixa visão foram os problemas mais comuns. Chamou atenção o caso de uma criança com glaucoma congênito em apenas um dos olhos, o que não é esperado. Já que a mãe relatou ter apresentado na gestação sintomas de zika, como manchas vermelhas na pele, achamos pertinente fazer uma reavaliação do bebê amanhã e investigar se o problema pode ter relação com a infecção pelo zika vírus na gravidez”, diz Liana Ventura.
A oftalmologista recomenda às famílias realizar atividades simples que ajudam a desenvolver a visão dos bebês com microcefalia. “É importante os pais usarem peças de roupas que mesclem cores de alto contraste, como preto e branco; amarelo e vermelho”, orienta a médica, que considera os seis primeiros meses de vida período fundamental para o aprimoramento da visão. No caso das crianças com microcefalia, o atendimento oftalmológico deve ser encarado como prioridade, já que existe o risco de problemas oculares se manifestarem tardiamente, na idade escolar. “Com o acompanhamento regular desses pacientes por toda a infância, podemos intervir de forma precoce se alguma complicação aparecer. Dessa maneira, evita-se até uma possível dificuldade na aprendizagem.”
Na próxima sexta-feira (18), a partir das 7h, será realizado um novo mutirão de saúde ocular para os bebês com microcefalia da rede privada. O atendimento será no Hospital de Olhos de Pernambuco (Hope), na Ilha do Leite, área central do Recife. No dia 11 de janeiro, uma outra triagem gratuita dessas crianças acontecerá na Fundação Altino Ventura da Boa Vista, também no Centro da cidade.
“Precisamos investigar cada caso com muito critério. Em análise parcial, já percebemos que alguns bebês com microcefalia apresentaram um grau de comprometimento visual maior do que outros com a mesma malformação”, explica Liana Ventura. Em linhas gerais, segunda a oftalmologista, as complicações têm sido mais intensas quando a mãe relata ter apresentado sintomas de zika no início da gestação, período em que a visão começa a se desenvolver.