SAÚDE'

Vacina contra zika deve ficar mais simples de ser produzida, diz infectologista

Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e responsável pela identificação da chegada do zika no Brasil em 2015, Kleber Luz fala, nesta entrevista, sobre investigações e descobertas relacionadas ao vírus

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 19/02/2016 às 11:49
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Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e responsável pela identificação da chegada do zika no Brasil em 2015, Kleber Luz fala, nesta entrevista, sobre investigações e descobertas relacionadas ao vírus - FOTO: Divulgação
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JC – O fato de o zika ser mais parecido com o vírus da febre amarela e com o da encefalite japonesa, doenças para as quais se tem imunização, ajuda a avançar nas pesquisas para vacina contra zika? 

KLEBER LUZ – O que facilitou o desenvolvimento da vacina contra febre amarela foi o fato de existir só um tipo de vírus da doença, como o da encefalite japonesa. Então, certamente a vacina contra zika deverá ser mais simples de ser produzida. É possível que só se tenha zika uma vez, mas não se sabe se a imunidade (adquirida pela pessoa que teve a doença) será duradoura. 

JC – As mulheres que têm sintomas sugestivos de zika antes de engravidar podem ficar mais tranquilas quando ficarem grávidas? 

KLEBER – Do ponto de vista médico, ainda não temos essa resposta. A sugestão é não engravidar até se ter resposta adequada para essa situação. 

JC – Que fatores podem estar associados ao elo entre zika e microcefalia? 

KLEBER – Nenhum, é só a zika mesmo.

JC – E o que explicaria algumas mulheres terem zika e não darem à luz bebês com microcefalia? 

KLEBER – Doença infecciosa é assim mesmo: nem todos que são afetados têm doença grave. Não acredito ter fator associado. É zika mesmo e acabou.

JC – A muriçoca poderia mesmo transmitir o vírus da zika? 

KLEBER – Não, é só Aedes. É Aedes demais. 

JC – Faria alguma comparação entre esta epidemia que vivemos agora com alguma outra do passado? 

KLEBER – Não, com essa intensidade de gravidade não. 

JC – E quando o senhor identificou, em maio de 2015, a circulação do vírus no Brasil, imaginava que passaríamos por tudo isso? 

KLEBER – Não, só imaginava que tinha respondido a principal pergunta sobre a causa da doença que estava acontecendo no Nordeste, com sintomas como febre, manchas e coceiras. A gente lia sobre o zika e nada encontrava, exceto a relação com Guillain-Barré. Ficamos atentos a isso e, em junho, vimos aumento em Natal de Guillain-Barré. Quando falei com Carlos Brito (médico de Pernambuco), ele também estava percebendo.

JC – E microcefalia? 

KLEBER – Ninguém esperava. Mas eu vou lhe contar uma história: logo quando apareceu zika, uma mulher da Itália me ligou em junho, julho (o avanço dos casos de microcefalia só foi percebido a partir de agosto). Ela disse que veio a Natal, tinha tido zika e o filho dela nasceu na Itália com microcefalia. Lá os médicos disseram que foi zika. Ela me passou um e-mail, e eu lamentavelmente disse a ela que não foi zika. Não dei importância, tanto que apaguei os e-mails porque minha caixa é cheia. Eu até hoje me arrependo. Espero que essa mulher me passe um e-mail para eu pedir desculpas a ela. 

JC – Ainda vão aparecer mais achados sobre zika e microcefalia?

KLEBER – Sim, certamente vão vir. 

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