Com o lançamento ontem do Protocolo de Manejo da Dor na Chicungunha do Recife, médicos e enfermeiros que atuam na atenção básica ganham mais segurança para lidar com as queixas dos pacientes, principalmente daqueles que voltam diversas vezes às emergências sem aguentar a dor nas articulações dos pés e mãos, dedos, tornozelos e pulsos. Essa dor, que perdura por meses e anos após o início da infecção viral, é tão intensa e incapacitante que pode favorecer o desenvolvimento de quadros de depressão, alterações de sono, memória e concentração.
“O protocolo chega para melhorar a capacidade de a atenção básica responder aos desafios do cuidado do manejo agudo e crônico das pessoas com chicungunha. Inicialmente, as pessoas vão aos serviços de emergência em busca de diagnóstico, mas voltam pelas dores significativas. A partir de agora, vamos fazer com que o posto de saúde, as upinhas e as unidades de saúde da família façam esse atendimento da melhor forma”, diz o secretário de Saúde do Recife, Jailson Correia. A qualificação também tem sido dirigida a fisioterapeutas do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), já que as complicações decorrentes da doença exigem uma conduta que não deve se limitar ao tratamento medicamentoso. Para todos os casos, são recomendados repouso e uso de compressas frias como medida analgésica.
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“A chicungunha tem representado um desafio imenso de saúde pública pela superlotação nos serviços de urgência, pela tensão na atenção básica e pela retirada das pessoas do ambiente de trabalho, o que desfalca até as equipes de saúde”, reconhece Jailson, que tem se preocupado especialmente com o risco de agravamento nos extremos da vida: infância e velhice. “Quando acomete um idoso, a chicungunha desorganiza a linha de cuidado com que os profissionais de saúde estavam atentos para estabilizar o paciente. De repente, o idoso é surpreendido com uma doença que o coloca na cama, de repouso por vários dias e semanas. Isso mal para a saúde física e mental”, acrescenta o secretário.
A designer de joias Teresa Branco, 61 anos, representa a parcela da população que se queixa das complicações da chicungunha mesmo passado muito tempo após o início dos sintomas. “Tudo começou em setembro do ano passado com uma dor muito forte no joelho que me impedia de levantar da cama. Naquela época, os médicos desconheciam a doença. Cheguei a ficar muito magoada com eles, pois pareciam não acreditar na dor que eu relatava”, conta Teresa.
Ela começou a ter um quadro típico da doença justamente no mês em que a Secretaria Estadual de Saúde confirmou a circulação do vírus chicungunha em Pernambuco. “Tive três dias de febre muito intensa, dores nas juntas e acúmulo de líquido nos pés, que continuam inchados. Ainda hoje tenho dificuldades para abrir e fechar a mão, mas as dores estão mais amenas.”
Com o protocolo, os profissionais passam a ter um olhar mais apurado em queixas como a de Teresa. Ao ser examinado pelos médicos, o paciente passa a responder a uma escala de dor. “Além disso, é aplicado um questionário de dor neuropática, que pode vir acompanhada de formigamento, sensação de choque elétrico, alfinetada e adormecimento. Esses casos podem exigir tratamento mais específica”, reforça Jailson. Ele acrescenta que foi feito um investimento de R$ 1 milhão para aquisição de medicamentos para controle da dor.