Mãe de Matheus, 9 meses, a bancária Isabel Albuquerque, 38 anos, é uma das mães dos bebês com microcefalia que levantam a bandeira contra o preconceito e a favor do respeito. Após o nascimento do filho, ela começou a sentir como o amor de mãe é transformador e passou a guardar, na sua lista de desejos, uma palavra valiosa: acolhimento. “Já vi muitas mulheres sofrerem quando percebem os olhares tortos das pessoas na rua para seus filhos com microcefalia. Nunca passei por preconceito, mas ouvi relato de uma mãe que sofreu agressões verbal e física enquanto estava no ônibus com seu bebê. Tem gente que erroneamente acha que nossos filhos não riem, não interagem, não brincam. A informação ajuda a desmistificar isso”, conta Isabel, uma das mães que participam da campanha lançada ontem pelo Governo de Pernambuco para sensibilizar a sociedade sobre a microcefalia – uma condição que ainda gera curiosidade entre as pessoas.
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“A campanha é muito bonita porque mostra como é importante a acolhida. Espero que essa mensagem alcance a sociedade”, diz Isabel, que hoje tem uma visão mais madura diante dos temas que permeiam a microcefalia. “Logo quando Matheus nasceu, não queria expor a nossa situação. Mas não era por vergonha; era porque eu não sabia o que nos aguardava. Não tem por que esconder meu filho, que só recebe muito amor. É o meu guerreiro.”
Baseada em histórias reais como a de Isabel, a campanha nasce de um ensaio assinado por Pio Figueiroa, cujas fotos transmitem a relação de carinho e afeto entre pais e filhos. As imagens darão vida a uma exposição itinerante que percorrerá todo o Estado (o roteiro ainda está em definição). Até o fim deste mês, a campanha toma conta de backbus, de anúncios em jornal, revista, sites, blogs e telas de cinema. Comerciais são exibidos na televisão com relatos das famílias dos bebês.
O trabalho também pode ser acompanhado pela população através do hotsite Receba com Amor (www.recebacomamor.com.br), onde se pode deixar mensagens, vídeos e fotos para os bebês que nascem com a malformação no Estado. “A campanha ajudará a sociedade a respeitar as diferenças. Isso é um dever de todos”, diz a presidente da União de Mães de Anjos (entidade que presta assistência para mães de bebês com microcefalia), Germana Soares, mãe de Guilherme, 7 meses, que nasceu com microcefalia e síndrome congênita associada ao zika vírus. Eles também fazem parte da campanha.
Secretária-executiva de Vigilância em Saúde de Pernambuco, Luciana Albuquerque, considera a iniciativa como um marco importante para garantir a dignidade das famílias dos bebês. “Já conseguimos mobilizar uma rede de assistência regionalizada para microcefalia. Agora vamos para uma nova etapa. Precisamos garantir não só os direitos de atenção à saúde dessas crianças, mas também o respeito”, salienta Luciana.