Com a comprovação de que o mosquito Culex quinquefasciatus, popularmente conhecido como muriçoca, é um potencial transmissor do zika vírus, pesquisadores começam a se organizar para fazer um mapeamento do índice de infestação por Aedes aegypti e por Culex quinquefasciatus nas áreas do Recife onde mais têm sido registrados os casos de microcefalia relacionados ao zika. “Estima-se que 90% dos casos dessa malformação ocorram em áreas onde há muito Culex”, diz a bióloga Constância Ayres Lopes, coordenadora do estudo realizado pela Fiocruz Pernambuco e que mostrou, pela primeira vez, a implicação de outra espécie de mosquito, diferente do Aedes, na transmissão de zika.
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O trabalho, que ainda não tem data definida para ser iniciado, será realizado em parceria com a Fundação Altino Ventura, que tem acompanhado boa parte dos bebês que nascem com microcefalia no Estado. “A ideia é ir à casa das mães dessas crianças e fazer uma pesquisa que compare a quantidade de Aedes com a de Culex. A gente conhece esse universo de uma maneira geral, nos bairros onde instalamos armadilhas e coletamos os mosquitos. Mas nas áreas onde há circulação de zika, não sabemos ainda como é essa proporção”, ressalta Constância. As residências das famílias dos bebês com microcefalia serão usadas como parâmetro porque teoricamente são consideradas áreas mais expostas à infecção pelo zika vírus, cuja epidemia foi conhecida no segundo semestre de 2015, quando nasceram os primeiros bebês com a malformação congênita.
“Será um trabalho importante porque estamos percebendo que o contexto ambiental onde as famílias moram tem papel fundamental. Dependendo das condições, a área facilita a disseminação da zika. Precisamos fazer um diagnóstico dessa realidade para enfrentar desafios, fortalecer comunidades e adotar estratégias”, salienta a oftalmopediatra Liana Ventura, presidente da Fundação Altino Ventura.
Se a próxima etapa do trabalho de Constância comprovar que o Culexé o principal vetor do zika (até mais do que o Aedes), autoridades de saúde precisarão reorganizar o combate às arboviroses. São espécies com hábitos que exigem estratégias de controle diferentes. “Muriçoca coloca os ovos em água poluída, rica em materiais orgânicos, como esgotos e fossas. Isso requer medidas de saneamento básico para eliminar criadouros”, frisa Constância.
O Culex quinquefasciatus também é transmissor da filariose, doença em vias de eliminação em Pernambuco, que teve o último caso computado em 2013. O detalhe é que, para filariose, existe tratamento medicamentoso, o que possibilita maior controle da transmissão. “E no caso da filariose, a pessoa precisa receber cerca de mil picadas de muriçoca para se infectar”, diz Constância, que agora vai investigar se, para ocorrer a infecção por zika, o número de picadas do Culex é importante.