Saúde

Tratamento de queimadura com pele de tilápia pode estar disponível em 2018

Estudos mostraram eficácia e segurança do novo método, criado pelo médico paraibano Marcelo Borges, radicado no Recife há 37 anos

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 15/08/2017 às 8:35
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Estudos mostraram eficácia e segurança do novo método, criado pelo médico paraibano Marcelo Borges, radicado no Recife há 37 anos - FOTO: Diego Nigro/JC Imagem
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Após se mostrar eficaz e segura na segunda fase de testes, da qual participaram 60 adultos atendidos pelo Instituto Doutor José Frota (Fortaleza), a pele de tilápia será submetida, no próximo mês, para aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como produto indicado para o tratamento de queimaduras de segundo grau superficiais e profundas, que destroem a epiderme (camada superior da pele) e parte da derme (logo abaixo da epiderme). Nessa etapa em humanos, os estudos mostraram que o curativo feito com a pele de tilápia foi capaz de reduzir, em até dois dias e meio, o tempo de cicatrização das lesões dos pacientes que participaram da pesquisa, em comparação àqueles do grupo controle que fizeram o tratamento convencional, com o creme de sulfadiazina de prata, oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Se aprovado pela Anvisa, o curativo feito com pele de tilápia deve chegar ao mercado no segundo semestre de 2018. 

“Estamos preparando toda a documentação para darmos entrada no protocolo de registro desse curativo biológico como produto para a saúde perante a Anvisa. Iniciamos também a terceira fase dos testes, da qual participam 120 adultos e 30 crianças. O objetivo é consolidar os resultados da etapa anterior do estudo. Mais adiante, vamos testar o uso da pele de tilápia em úlceras de pressão e feridas do pé de pacientes com diabetes”, informa o cirurgião plástico Marcelo Borges, idealizador da pesquisa e coordenador de Treinamentos em Saúde da Faculdade de Medicina de Olinda. Com o avanço na investigação, financiada pelo Companhia Energética do Ceará, a pele de tilápia ganhou o mundo. A pesquisa foi traduzida para oito idiomas e apresentada em vários países.

Agora o estudo também conta com a colaboração do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (Lika) da Universidade Federal de Pernambuco. A unidade entra como parceria no desdobramento da pesquisa, oferecendo a base laboratorial para identificação dos peptídeos (uma espécie de proteína em miniatura) na tilápia. “Trabalhos têm mostrado que alguns peixes possuem quantidade considerável de peptídeos, com ação antimicrobiana e anti-inflamatória. Estamos pesquisando a presença de hepcidinas e defensinas. Já identificamos a existência delas na pele in natura da tilápia. Falta detectá-las na pele que passa pela esterilização”, explica Marcelo, que também é coordenador do SOS Queimaduras e Feridas do Hospital São Marcos, no bairro de Paissandu, área central do Recife.

O cirurgião salienta que os testes com peptídeos reforçarão os resultados da pesquisa alcançados até o momento. “Além do estímulo maior do contato do colágeno da tilápia com a ferida, os antibióticos existentes na própria pele da tilápia poderiam estar controlando o nível de contaminação da lesão”, acrescenta.

MENOS DOR

O curativo feito com a pele de tilápia ainda possibilita uma menor manipulação das lesões e, dessa maneira, evita as dores que aparecem durante a substituição do produto. “Trocamos, em média, apenas de 20% a 40% das lâminas do curativo. Ou seja, entre 60% e 80% das peles aplicadas não são trocadas até a alta do paciente. Sem manipulação, há menos dor. E com uma menor quantidade de curativos para trocar, o tempo do procedimento é reduzido.”

Entre os pacientes que utilizaram a pele de tilápia, está o pernambucano Josué Correia Bezerra, 36 anos, que mora em Fortaleza há quase duas décadas. “Em dezembro, tive o braço direito queimado, no trabalho, durante uma explosão ao ligar o disjuntor. Comecei o tratamento com o curativo tradicional e depois usei a pele de tilápia por 17 dias. Passei a sentir menos dor, e o tempo de internamento foi reduzido de dois meses para 20 dias”, conta Josué, agradecido por ter sido beneficiado com o curativo biológico.

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