Saúde

Saúde Conectada: Home care mantém suporte terapêutico e laço afetivo

Tecnologia e humanização são fundamentais no setor de assistência domiciliar

Gabriel Dias
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Gabriel Dias
Publicado em 26/05/2019 às 17:10
Foto: Bianca Sousa/JC Imagem
Tecnologia e humanização são fundamentais no setor de assistência domiciliar - FOTO: Foto: Bianca Sousa/JC Imagem
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Os lençóis cor-de-rosa protegem do frio a menina esperta que dorme em seu quarto de paredes coloridas. Na estante, bonecos da Turma da Mônica foram colocados perto de um quadro com fotos da família. Atrás da cabeceira da cama, a imagem do anjo Gabriel; do outro lado do dormitório, um televisor em que a menina assiste a desenhos animados. O quarto de Letícia Beatriz, de 10 anos, também encontra espaço para o uso de recursos tecnológicos que ajudam a menina a viver. Rodeada por cores e brinquedos, Letícia Beatriz, 10 anos, dorme em uma maca hospitalar e necessita de um aparelho para manter a respiração sob controle.

Outra máquina monitora os batimentos cardíacos da garotinha, que adora quando sua mãe coloca laços em seu cabelo. A rotina da família envolve a participação de cerca de 10 profissionais que se revezam para manter a menina em casa, em um empenho para encontrar qualidade de vida para a criança. Letícia Beatriz tem atrofia muscular espinhal (AME) do tipo 1 – uma doença genética que interfere na capacidade do corpo de produzir uma proteína essencial para a sobrevivência dos neurônios motores. Sem ela, esses neurônios morrem, e os pacientes vão perdendo controle e força musculares. A doença é degenerativa e não tem cura.

Apesar da gravidade da doença, a menina consegue viver dentro de casa graças ao avanço da tecnologia, que leva para o ambiente doméstico uma estrutura que antigamente só era vista dentro dos hospitais. O home care (termo em inglês que nomeia essa modalidade de atendimento) surgiu nos Estados Unidos nos anos 1980. Já no Brasil, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o método começou a ser largamente utilizado nos anos 1990. Esse tipo de atendimento avança a passos largos. De acordo com o Núcleo Nacional das Empresas de Serviços de Atenção Domiciliar (Nead), somente no ano passado, o home care cresceu mais de 40% no Brasil. No Nordeste, o crescimento foi de 132%.

No caso de Letícia Beatriz, que permanece internada em casa desde o primeiro ano de vida, o apoio é dado por uma série de equipamentos, instalados em seu quarto. “Nós traçamos um plano de cuidados e ações que precisa ser seguido. Letícia respira com ajuda de aparelhos e depende de um oxímetro, aparelho que mede os batimentos cardíacos e o nível de oxigênio no sangue”, explica a enfermeira Mônica Ruiz, gerente de enfermagem da Interne, empresa de home care contratada pelo plano de saúde de Letícia para realizar o serviço. Além destes equipamentos, a casa da família foi equipada com um gerador com bateria que dura seis horas para manter as máquinas ligadas, em casos de interrupções no fornecimento de energia elétrica na casa.

Em equipe

Os aparelhos são operados por quatro técnicas de enfermagem que se revezam para acompanhar a menina em turnos diurnos e noturnos. Além disso, três fisioterapeutas, um médico, um fonoaudiólogo, uma enfermeira e um nutricionista fazem visitas rotineiras à paciente.

Assim como Letícia, a Interne acompanha aproximadamente 290 pacientes internados em suas casas. Mais 120 pessoas recebem assistência domiciliar – outra modalidade em que o paciente não precisa de atendimento em tempo integral, mas recebe visitas periódicas de profissionais como fisioterapeutas e enfermeiros.

“É muito bom ter a minha filha ao meu lado. No hospital, além do desconforto, Letícia sofria o risco de ter infecções, e isso era muito preocupante. Em casa, ela está ao meu lado o tempo todo, e eu posso cuidar dela. A família vem visitar e, sempre que é possível, fazemos festas de São João, Natal e até Carnaval”, comemora a mãe da menina, a dona de casa Jacilene Alves, 43 anos. As duas moram com o pai de Letícia, Valdemir, que é mecânico e também participa dos cuidados.

Nordeste é o 2º em home care

A assistência oferecida em casa traz como vantagem a oferta de um cuidado humanizado e personalizado, em que cada paciente conta com um tratamento diferenciado, de acordo com as necessidades de saúde e indicações clínicas, com diversos profissionais e equipamentos médicos.

Pesquisa realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), em parceria com o Núcleo Nacional das Empresas de Serviços de Atenção Domiciliar (Nead), mostra um crescimento no cenário de atendimento domiciliar no Brasil.
Em julho de 2012, de acordo com o levantamento, 18 empresas ofereciam no serviço no País. Em junho de 2018, o número saltou para 676. O Nordeste é a segunda região brasileira no ranking, com 151 empresas, atrás apenas do Sudeste (337). Em terceiro, vem o Sul (89), seguido por Centro-Oeste (75) e Norte (24).

Inaugurada no Recife em março, a Home Doctor é mais uma empresa que oferece o serviço de internação e atendimento domiciliar especializado. Com sede em São Paulo, já atendeu a mais de mil pacientes em ventilação mecânica (método de suporte para o tratamento de pacientes com insuficiência respiratória).

Para o superintendente médico da unidade Bahia da Home Doctor, José Luiz Landeiro, o paciente atendido por serviço de home care conta com benefícios, como a melhora da autoestima e o menor risco de contrair infecções. “Em casa, as pessoas podem ter contato com amigos e parentes; em alguns casos, até com animais de estimação. Essa interação pode ajudar muito no desenvolvimento e na melhora do quadro clínico do paciente”, destaca Landeiro.

Para realizar o atendimento domiciliar, as empresas que prestam esse serviço precisam se adequar a normas de uma resolução de 2006 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que, entre outras questões, obriga que a prestadora do serviço seja inscrita no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) e tenha como responsável técnico um profissional de nível superior da área da saúde. “Não é recomendado também que o paciente se afaste do médico (assistente) que o acompanhava antes (do atendimento domiciliar)”, reforça Landeiro.

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