Nature Medicine

Crianças com zika na gestação podem ter atraso no desenvolvimento mesmo nascendo saudáveis

O trabalho mostra que 31,5% das crianças entre 7 e 32 meses de vida tiveram neurodesenvolvimento abaixo da média e/ou avaliações auditivas ou visuais anormais

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 10/07/2019 às 9:12
Foto: Fernando da Hora/Acervo JC Imagem
O trabalho mostra que 31,5% das crianças entre 7 e 32 meses de vida tiveram neurodesenvolvimento abaixo da média e/ou avaliações auditivas ou visuais anormais - FOTO: Foto: Fernando da Hora/Acervo JC Imagem
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Um estudo desenvolvido por um grupo de pesquisadores de diversas instituições no mundo, incluindo o Brasil, revela que cerca de 30% das crianças expostas ao zika durante a gestação, que nasceram aparentemente saudáveis (sem microcefalia, por exemplo), podem apresentar atraso no desenvolvimento ao longo da primeira infância. A pesquisa, publicada na segunda-feira (8) na revista científica Nature Medicine, traz resultados da evolução de 216 crianças que foram acompanhadas desde o período em que suas mães tiveram confirmação laboratorial de zika durante a epidemia de 2015 e 2016 no Rio de Janeiro.

O trabalho mostra que 31,5% das crianças entre 7 e 32 meses de vida tiveram neurodesenvolvimento abaixo da média e/ou avaliações auditivas ou visuais anormais. Distúrbios comunicativos foram os mais frequentes, afetando 35% de 146 crianças analisadas. “Os resultados mostram que esse grupo (exposto ao zika na gestação e sem microcefalia) precisa ser examinado periodicamente porque, se identificarmos atraso de desenvolvimento precocemente, essas crianças podem se beneficiar com estimulação”, diz a pediatra e pesquisadora da Fiocruz do Rio de Janeiro, Maria Elisabeth Moreira, uma das principais autoras do trabalho.

Com base nesses achados, ela destaca a importância de se acompanhar essas crianças até a idade escolar. “Se observarmos atraso de aprendizado, podemos fazer encaminhamento para estimulação correta em centros adequados. O grupo de crianças que participa da nossa pesquisa será acompanhado até o terceiro ano de vida, mas estamos conversando com as mães para continuarmos o estudo até os 7 anos de idade”, frisa.

O trabalho ainda menciona o caso de duas crianças que nasceram com microcefalia sem necessariamente apresentar desenvolvimento anormal do cérebro pela infecção do zika. No segundo ano de vida, ambas tiveram resultados normais em exames neurológicos, avaliações auditivas e oftalmológicas. “Elas nasceram com redução de perímetro cefálico por causas específicas. Uma delas tinha uma diminuição de crescimento intraútero, mas não necessariamente uma destruição do parênquima (tecido) cerebral pelo vírus. A outra criança tinha uma patologia que chamamos de craniossinostose (condição em que há fechamento precoce dos ossos do crânio do bebê), o que era passível de uma correção cirúrgica”, explica Maria Elisabeth.

A pesquisadora reforça também que ambas as crianças foram expostas ao zika dentro do útero, mas provavelmente não chegaram a ser infectadas. “Elas não apresentavam a microcefalia típica das crianças afetadas pelo vírus. Ou seja, não tinham a destruição do parênquima cerebral nem mesmo alteração nos exames de imagem (cerebral). Não se trata de uma reversão da microcefalia causada pelo zika, pois essas crianças muito provavelmente podem não ter sido infectadas; apenas firam expostas”, salienta Maria Elisabeth.

Relação entre microcefalia e zika

Já se passaram três anos desde que o Jornal do Commercio anunciou em primeira mão a explosão de casos de recém-nascidos com microcefalia, que se tornou a malformação congênita mais associada ao zika. Agora, o fenômeno não é mais considerado uma emergência nacional, mas continua a impactar a saúde pública e a vida das famílias atingidas pelo vírus que permanece em circulação em Pernambuco.

Casa Saudável

O Jornal do Commercio trouxe, em 2018, uma série de reportagens 'Zica em 1000 dias' que marcou a gestação e os dois primeiros anos de vida das crianças afetadas pela síndrome, mostrando como as pesquisas têm avançado para dar respostas a dúvidas sobre o vírus e seus anos futuros. 

O programa Casa Saudável, da TV JC, discutiu o tema com a jornalista Cinthya Leite, a oftalmologista Camila Ventura e o neuropediatra Lucas Alves sobre zika, microcefalia e desenvolvimento das crianças afetadas pela síndrome.

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