Morreu, nesta quinta (12), a artista plástica Tomie Ohtake, aos 101 anos. Considerada uma das figuras mais relevantes da arte brasileira, Tomie estava internada no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
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Ela estava internada havia mais de uma semana por causa de uma pneumonia e respirava desde esta terça (10) com a ajuda de aparelhos.
RUY OHTAKE
arquiteto, filho de Tomie
"O comentário que eu posso fazer é uma palavra só, em maiúsculo. BEIJO TRANS-UNIVERSAL!!! Beijo trans-universal que atravessa o universo. Foram meses muito ricos. A vida dela, pela vitalidade que ela sempre teve, o vigor que ela sempre teve. Ela queria ter alta do hospital para continuar trabalhando."
AFONSO LUZ
diretor do Museu da Cidade
"Era uma das últimas figuras que faziam a ponte entre as novas gerações e a abstração informal, que foi muito forte nos anos 40 e 50, especialmente no Brasil. Ela levou isso para além do que só havia na comunidade japonesa: sua arte já se confundia com a cultura brasileira.
Tomie é também uma dessas últimas figuras que temos da transição entre a arte moderna e a contemporânea. Ela não era uma modernista. Ela já se inseria num circuito mais global. É uma perda histórica. Poucos artistas no Brasil ganharam notoriedade para além do campo da própria arte.
Ela virou quase uma entidade pública, que entrava pela arquitetura, pelo design etc. Longevidade na vida de um artista é uma sorte incrível porque a sua obra se mantém em atualização constante e permite esse diálogo com as novas gerações. E teve essa sucessão pelos seus filhos e por muitas figuras da cidade que foram influenciados por ela: a criação se propaga nas seguintes."
HUGO SEGAWA
diretor do Museu de Arte Contemporânea da USP
"Tomie era uma artista cuja longevidade foi suficiente para que ela merecesse o reconhecimento de uma artista brasileira. Vários dos nossos artistas são imigrantes e a Tomie era uma dessas artistas que ganharam o status de brasileira, embora ela nem sempre fosse tão claramente associada à arte brasileira, por ser uma artista abstrata.
Nesse caso, acho que há um contexto brasileiro, que é a assimilação de várias culturas, com artistas como Yolanda Mohali, Volpi, gente de todas as nacionalidades que formam essa identidade brasileira."
FÁBIO MAGALHÃES
curador e crítico de arte
"Eu acho a Tomie extremamente relevante na arte brasileira. É interessante porque ela vai do abstracionismo informal para uma abstração construtiva. Ela mantém durante toda a produção dela uma noção de estética japonesa. Ela faz falta, é uma artista presente nos eventos culturais, não só das artes plásticas.
Frequentadora de teatros, cinemas, concertos. Foi uma grande incentivadora de artistas. Teve uma vida belíssima. Viveu uma vida longa e produtiva."
ARACY AMARAL
crítica e curadora de arte
"Ela era o grande expoente do grupo dos nipo-artistas brasileiros. Participou ativamente de todos os movimentos de arte, passando de uma fase mais expressiva para uma fase mais sintética, fazendo incursões pela serigrafia, o que deu à obra dela um destaque especial.
Além disso, como escultora, povoou a nossa capital com monumentos. Ela está muito presente na visualidade de São Paulo, seja no parque Ibirapuera, na Avenida 23 de maio, no Memorial da América Latina. A obra dela está presente de forma intensa. A memória dela via ficar conosco. Ao mesmo tempo, tinha uma presença discreta, muito especial como personalidade, aparecia através da obra e não da persona."
SÉRGIO SISTER
artista plástico
"Eu gosto especialmente, na obra dela, do abtracionismo informal da década de 1960. Foi um grande momento dela, um momento muito feliz. Ela tem uma produção muito interessante também de gravuras e de esculturas, mais recentes.
Ela tem uma obra muito grande, viveu muito e trabalhava muito, é uma coisa impressionante. Trabalhou tanto, produziu tanto. O tempo a recompensou."