Se há uma área na qual o Brasil é líder mundial por excelência, é na criação de memes. A produção de conteúdos de humor com rápido poder de propagação é abundante e, diariamente, pauta conversas. Alguns, têm caráter efêmero, enquanto outros conseguem se consolidar na cultura pop. Aos poucos, conquistam também espaço como objetos de pesquisa e são também entendidos como arte, como mostra a escolha do Saquinho de Lixo, um fenômeno com 337 mil seguidores no Instagram, e da digital influencer Alcione Alves (do Teile e Zaga) para integrarem À Nordeste.
Intitulada Memelito, a obra do coletivo faz uma colagem frenética de memes, misturando vídeos, emojis, e áudios em um liquidificador virtual que rapidamente ativa a memória afetiva do visitante. A conexão com o público mais jovem é evidente e a interação com a obra – com gravações de stories, fotos e interações interpessoais (‘é aquele áudio que te mandei!’) – provoca constantes ressignificações.
Atualmente, o Saquinho de Lixo é formado por nove pessoas: Aslan Cabral, Júlio Emílio, Isabelle Strobel, Douglas Layme; Davi Xavier, Sofia Carvalho; Alan Pereira; Luis Porto; e Rodrigo Almeida. Juntos, eles fazem a curadoria dos memes postados no feed do Instagram, e a diversidade de vivências dos membros é refletida nos processos do Saquinho de Lixo.
“Nossa ideia inicialmente era explorar um pouco a ferramenta dos Stories. No feed, acabávamos postando coisas que achávamos engraçadas, nojentas, mas esse conteúdo acabou ganhando protagonismo mais marcante. Surgiu, então, a necessidade de criar um procedimento caso surgisse algo problemático”, explicou o coletivo.
NOVOS ESPAÇOS
Para os integrantes do Saquinho, a ocupação do espaço institucional mostra um tensionamento no campo da arte e levanta importantes discussões. A discussão está, de fato, levantada e acontece a nível mundial, pautada em espaços diversos, como o virtual Museu do Meme.
“A exposição é provocadora e leva a pensar quem tem legitimidade de disputar um lugar naquele espaço. É natural que quando surjam outras ferramentas, existam essas disputas de campos onde este novo veículo está situado. Imagino que em algum momento a videoarte, por exemplo, passou por essa questão de se legitimar e se inserir em lugares institucionais. O meme tensiona muitos lugares: é sobre o momento, muito fresco. Não sei se todo meme é arte, mas toda fotografia é arte? Toda performance é arte? Todo quadro é arte? Acho que há potencial de conversar com esse campo”, reforçam.