Eram 16h35 de um sábado luminoso quando, diante de um auditório lotado, teve início a cerimônia de lançamento da nova configuração da Oficina Cerâmica Francisco Brennand, que agora passa a se chamar Instituto Oficina Cerâmica Francisco Brennand, uma entidade sem fins lucrativos que tem como premissa maior preservar a integridade do legado artístico e o conjunto das obras do seu criador.
Na mesa, Marcos Vinicios Vilaça, ex-ministro e presidente do Tribunal de Contas da União e membro da Academia Brasileira de Letras, fez a saudação. Ao seu lado, apenas a figura imponente – cabelos longos e barba branquíssima – de Francisco Brennnand, que há 48 anos, em 1971, deu início ao trabalho de reformar a antiga fábrica de telhas que pertencera ao seu pai. Desde então, a Várzea – bairro ao qual o grande artista pernambucano, e criador do espaço, se referiu como “o umbigo do Brasil – viu surgir um dos maiores talismãs artístico e turístico do Estado de Pernambuco. “Foi um ato de bom senso. Ninguém nos perdoaria se deixássemos desamparado, sem abrigo às ações do tempo, este grandioso conjunto que o ceramista nos legou”, afirmou Vilaça.
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Agora como instituto – com mais de três mil obras pessoalmente selecionadas e transferidas pelo próprio F. Brennand para compor o acervo desta entidade cultural – passa a vigorar um modelo para sua preservação e sustentabilidade. A mudança, que teve em Mariana Fortes Brennand, sobrinha-neta de Francisco, sua maior articuladora, possibilitará, também, que sejam promovidas ações de fomento em várias áreas: artística, educacional, filantrópica e ambiental.
Está prevista a criação de um comitê de patrocínio, que reunirá parceiros e apoiadores, em um diálogo permanente sobre os rumos do Instituto, garantindo transparência e estabilidade às suas ações. O primeiro patrocinador oficial é o Grupo Cornélio Brennand (GCB), abraçando as primeiras ações do Instituto, que contará também com a auditoria pró-bono da Price Waterhouse Coopers (PwC), desde o início de sua operação.
O gênio da Várzea
No novo modelo de gestão, está prevista a consolidação de parcerias com áreas transversais como cultura, educação, turismo, tecnologia e inovação. “Serão muito bem-vindas as parcerias público-privadas que possam viabilizar os programas do Instituto, gerando desenvolvimento e impacto positivo nas comunidades locais e regionais. Poderão ainda ser celebradas parcerias com instituições nacionais e internacionais, que transformem o Recife num polo de criação e inovação por meio da cerâmica”, afirma a direção do Instituto.
“Foi um esforço enorme chegar até aqui, mas nada é fácil na vida, nem pentear o cabelo”, brincou Francisco Brennand, lembrando a trajetória da Oficina Cerâmica Francisco Brennand, agora transformada em Instituto.
Francisco Brennnand recordou quando recebeu a primeira pista sobre o acerto da decisão de recuperar a estrutura industrial, então desativada, transformando-a no que é hoje. “Um motorista de táxi chegou na propriedade trazendo quatro turistas. À certa altura, virou-se para eles e disse: ‘Isso parece o Egito”, rememorou entre risos da plateia. “O que pare ele era Egito, para mim era a tradução de mistério. E foi isso que conseguimos: não banir o mistério desse lugar”, sentenciou.
“A minha parte está feita, e foi feita com minha alma de artista, intransferível, agora é com as nova gerações”, concluiu o gênio da Várzea.