A casa, ou melhor, casarão, no bairro do Torreão, foi garimpada durante muito tempo. Escasseiam pelos bairros os imóveis em condições, ou inclinação, para serem transformados em restaurantes. Nas localizações mais consolidadas como pontos comerciais para este tipo de negócio, os aluguéis costumam bater a estratosfera, a ponto de sugar os lucros que em empreendimentos do gênero, quando bem administrados, raramente ultrapassam a margem dos 15%. Mas o Arvo nasceu, fruto da parceria entre o chef Pedro Godoy e o empresário Eduardo Freyre, que já responde por marcas como a hamburgueria Beleléu e o bar e restaurante Vaporetto.
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O Arvo é o mais novo exemplo de uma tendência que vem se consolidando no já robusto cenário gastronômico do Recife, e que se caracteriza pela exploração de novas fronteiras geográficas para sua instalação; pelo comando assumido por jovens chefs, talentosos e aguerridos; pela convicção de uma comida cada vez mais identitária e sustentável; pela prática de um preço menos ostensivo.
A última passagem de Pedro Godoy, que é quem assume o comando das panelas, foi pelo Wiella Bistrô. Antes disso, porém, já havia feito algumas consultorias (inclusive para o Beleléu e o Vaporetto), registrou uma passagem rápida pelo programa MasterChef e retirou-se para uma temporada de estudo e trabalho na Austrália.
No seu retorno, pelas poucas palavras trocadas com ele, já era possível intuir que ali estava um jovem profissional vocacionado para ter, e bem rápido, o seu próprio ambiente de trabalho. Um local em que ele pudesse exercer, autoralmente, suas crenças culinárias. Eis o Arvo.
É bem possível que o primeiro lugar do tour de reconhecimento do restaurante, se fosse Pedro o guia, seria a horta que implantou, com orientação do agrônomo João Loreto, num jardim banhado de sol. Lá estão as PANCs (Plantas Alimentícias Não Convencionais) ao lado das ervas do dia a dia. “Não ambiciono uma grade produção, mas quero a facilidade de ter à mão, por exemplo, um orégano fresco”, explica, deixando claro que aquela não é uma instalação meramente ilustrativa.
A casa ainda está se vestindo – já mencionamos sua dimensão de palacete – e, por enquanto, o atendimento só está sendo feito durante o almoço, exceto nas segundas-feiras, dia de folga. A intenção, no entanto, logo, logo, é expandir para abarcar do café da manhã ao jantar.
As mesas estão dispostas na área externa, no que seria o quintal da casa, e são um deleite para todos os sentidos. Árvores frondosas nos cercam – pés de canela, manga, fruta-pão que ali devem ter sido plantados há décadas – uma trilha sonora maravilhosa e o aroma da vegetação que se intercala com as delícias enviadas pela cozinha.
O cardápio é enxuto. Para começar: caldinhos de siri, feijão ou couve flor abrem o paladar para muito mais. Ainda nas entradas: o croquete de cupim com aioli da casa e vinagrete é de querer repetir. Mas não se preocupem os veganos, o falafel de grão-de-bico com jerimum, servido com hummus de cenoura, pão pita frito e salada de PANCs não deixa nada a dever. Agulhinha empanada e salada, também vegana, completam as opções que têm variação de preço entre R$ 10 e R$ 22.
Entre os pratos principais, o pernil de cordeiro, assado durante 12 horas, desmancha na boca e é muito bem acompanhado por arroz de cebola frita, maionese de batata-doce e couve-flor torrada (R$ 78 para duas pessoas). Outro prato portentoso é a moqueca de camarão e peixe frito, servida com molho de maracujá, farofa de banana-da-terra com pimenta-de-cheiro e arroz branco com hortelã e coco queimado (R$ 85 para duas pessoas). Joelho de porco, arrumadinho de charque, cupim braseado e grelhado, um veganíssimo pad thai (espaguete de legumes ao molho de amendoim, pimenta-de-cheiro, açúcar de coco e gengibre com brócolis e couve-flor torrada) são ótimas escolhas.
SERVIÇO
Arvo Restaurante – Rua Djalma Farias, 170, Torreão. De terça a domingo, das 11h45 às 15h.