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Cannes: 'Bacurau', de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, ganha Prêmio do Júri

Bacurau, o apelido do último ônibus da madrugada em Recife, também é o nome da fictícia cidade onde se passa a história

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Publicado em 25/05/2019 às 15:29
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Bacurau, o apelido do último ônibus da madrugada em Recife, também é o nome da fictícia cidade onde se passa a história - FOTO: Foto: AFP
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O filme brasileiro "Bacurau", dirigido pelos pernambucanos Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, recebeu neste sábado (25) o Prêmio do Júri, no 72º Festival de Cannes. A premiação foi dividida com "Les miserables", de Ladj Ly.

"Bacurau" narra a história de um pequeno povoado do sertão perseguido por um grupo de assassinos americanos. O filme é visto como uma mensagem de resistência ao atual governo de extrema-direita do Brasil.

"Trabalhamos para a cultura no Brasil e o que precisamos é de seu apoio", disse ao receber o prêmio Mendonça, que já competiu pela Palma de Ouro em 2016 com "Aquarius".

"Dedico este prêmio a todos os trabalhadores e trabalhadoras do Brasil na ciência, na educação e na cultura", disse Dornelles.

O filme se passa dentro de alguns anos no Brasil. O povoado de Bacurau, localizado no Sertão do Seridó, desaparece do mapa na internet.

Os celulares param de funcionar, deixando os moradores isolados. Os assassinos têm carta branca para liquidar todo mundo, mas a comunidade se organiza para resistir.

"Bacurau", carregado de cenas fortes e com uma estética inspirada nos faroestes dos anos 70, pode ser visto como um tributo às comunidades rurais do Brasil, que no filme não se deixam intimidar pelo grupo de mercenários que trabalham para as autoridades locais.

"A diferença em relação aos faroestes tradicinais é que os índios eram filmados de longe, só dava para ouvi-los gritar", explicou Dornelles há alguns dias à AFP. "Em Bacurau os índios são os loiros de olhos azuis, mas nós nos aproximamos deles e fazemos que falem".

"Momento irônico"

Apesar da participação de Sônia Braga - protagonista de "Aquarius" - e do alemão Udo Kier, trata-se de um filme que, segundo Mendonça, serve "para suportar a loucura que está acontecendo" com Bolsonaro.

O também brasileiro Karim Ainouz levou na véspera o prêmio Um Certo Olhar, o segundo mais importante do festival, com o drama "A vida invisível de Eurídice Gusmão".

Esses dois reconhecimentos no maior festival de cinema do mundo "chegam em um momento relativamente irônico", disse Mendonça, na coletiva de imprensa após a cerimônia.

No Brasil "há uma nova política de financiamento do cinema há 15 anos, e agora temos a impressão que esse financiamento público a favor da arte será objeto de golpes sombrios", desabafou.

"Vamos continuar fazendo filmes e permanecer em contato com a realidade", garantiu Dornelles.

Perguntados se convidará Bolsonaro para ver o filme, Mendonça respondeu: Bolsonaro "tem todo o direito de ser convidado para ver 'Bacurau' e talvez ele goste".

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