As coordenações de Artes Visuais e de Cinema da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) juntaram forças para montar uma pertinente mostra de filmes que dá continuidade ao projeto Cães sem Plumas. A partir de hoje, e durante as próximas cinco terças-feiras, oito filmes da recente produção brasileira, que dialogam entre si ao representar situações em que grupos e indivíduos se tornaram vítimas de poderes constituídos para sua segurança, são exibidos no Cinema da Fundação.
Com passagens nos principais festivais de cinema do País, em que ganharam prêmios importantes (como Branco sai, preto fica, vencedor do último Festival de Brasília), os longas-metragens – documentários e narrações híbridas que flertam abertamente com a ficção – revelam fatos e histórias que denunciam como a polícia e a Justiça têm maltratado cidadãos brasileiros desde a ditadura militar.
O filme que abre a mostra é o emblemático Os dias com ele, de Maria Clara Escobar, premiado no ano passado na Mostra de Tiradentes. Trata-se de um processo de reconhecimento entre a diretora e o pai dela, o professor, filósofo e dramaturgo paulista Carlos Henrique Escobar, que fala pela primeira vez do período em que foi preso e torturado, na década de 1970, um passado que ela não conhecia. Com 24 anos de idade, Maria Clara busca nas memórias de chumbo do pai vestígios de sua identidade.
Na próxima terça-feira, a vez é de Corumbiara, de Vincent Carelli, que ganhou o Kikito de Melhor Longa-Metragem no Festival de Gramado de 2009. Um dos mais potentes documentários realizados no Brasil nos últimos anos, conta a batalha de 20 anos de um equipe de filmagens para provar o extermínio de uma tribo no coração da Amazônia. Em 1985, Vincent registrou o que restou das evidência do crime, a partir de uma denúncia do indigenista Marcelo Santos.
A vizinhança do tigre, de Affonso Uchoa, e Branco sai, preto fica, de Adirley Queirós, tratam de gerações de jovens que crescem e morrem à sombra dos bairros periféricos das grandes cidades brasileiras – no caso, Belo Horizonte e Brasília. Os dois filmes chamam a atenção da crítica desde janeiro deste ano, quando estrearam em Tiradentes. Produzido em Ceilândia, Branco sai, preto fica permite que dois rapazes vítimas da violência policial criem uma fabulação em que o Estado é investigado para reparar um crime cometido no passado.
Para concluir a mostra, uma oportunidade rara: assistir em sequência à trilogia em que a documentarista Maria Augusta Ramos investiga as faces da Justiça brasileira a partir de componentes como jovens criminosos (Juízo), funcionários do judiciário (Justiça) e o cotidiano de uma comunidade carioca (Morro dos Prazeres).
Programação
Terça, 7/10
Os dias com ele, de Maria Clara Escobar
Terça-feira, 14/10
Corumbiara, de Vincent Carelli
Terça-feira, 21/10
A vizinhança do tigre, de Affonso Uchoa
Terça-feira, 4/11
Branco sai, preto fica, de Adirley Queirós
Terça-feira, 11/11
Júizo, Justiça e Morro dos Prazeres, de Maria Augusta Ramos
Horário: 18h
Cinema da Fundação
Rua Henrique Dias, 609 - Derby