Está nos cartazes colados nas ruas do Recife, nos becos, nos bares, nos postes: “No futuro, o amor e a liberdade serão como num filme”. Foi assim que a cidade (e por que não o Brasil?) ficou marcada com Tatuagem. O longa-metragem estreou justamente no ano em que a produção cinematográfica nacional retomava (ou intensificava) pautas como sexualidade, transgressão e diversidade num debate necessário e ainda (infelizmente) “polêmico”.
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Poético e crítico, Tatuagem fez-se um manifesto político e artístico singular, entremeando a paixão de um soldado e de um líder de grupo teatral nas paisagens do Recife do final do regime militar, para falar da liberdade e do amor independente de gênero e rótulos. O filme de Hilton – sua estreia como diretor de longas – figurou entre as três principais apostas para indicado do Brasil ao Oscar. Estava ali, lado a lado de Praia do Futuro e Hoje eu quero voltar sozinho (o escolhido).
“O que se falava dos três filmes mostra que de certa forma a contemporaneidade deles. São temas contemporâneos e que têm que ser discutidos, mas nosso Estado (o Brasil), contraditório, parece não levar a sério. Minha intuição é de que na esfera pública quem levou a discussão do tema foram os conservadores. Levaram à tona para tacar pedra nele”, diz o diretor para quem o trabalho cumpriu discussões internas sobre algumas crenças cinematográficas que ele tinha consigo. “Não é um filme síntese do que eu penso do cinema, mas é daquilo que eu penso que deveria ser do cinema.”
Vencedor de dezenas de prêmios, entre nacionais e internacionais, Tatuagem é também um recorde no Recife, em cartaz no São Luiz desde janeiro. Com excelente público em todas as sessões. “Me perguntaram se o filme comprou o São Luiz”, gargalha brincando.