Diretor de O Shaolin do Sertão, Halder Gomes, cearense de 44 anos, é apaixonado por cinema, por Hollywood e pelas artes marciais. Estreou na direção em 2004, com Cine Holliúdy – O Artista Contra o Caba do Mal, curta que deu origem ao sucesso Cine Holliúdy (2013). Em entrevista ao Jornal do Commercio, ele falou, entre outros assuntos, sobre o processo de criação do novo longa e a decisão de continuar morando em Fortaleza, mesmo após a grande repercussão de seus trabalhos.
A ENTREVISTA
JORNAL DO COMMERCIO – Quando começou o processo de elaboração de O Shaolin do Sertão?
Halder Gomes – Minha ligação com as artes marciais é antiga, anterior à dedicação ao cinema. A concepção da história começou na mesma época de Cine Holliúdy, mas eu sabia que Shaolin seria mais caro, que demandaria mais cuidado. Cine teve vantagem nesse sentido, por dialogar mais facilmente com editais, ter um custo menor, por isso foi feito antes. Eu já tinha o argumento de Shaolin, mas precisei de um roteirista (no caso, L.G. Bayão) pra me ajudar a desenvolvê-lo. Eu escrevo porque gosto, não sou roteirista.
JC – Quem foi a inspiração para o nascimento de Alusío Li? Também há nele a junção de referências que existe nos outros elementos do longa?
Halder – O Aluísio é muito autobiográfico, uma bifurcação entre eu, Edmilson Filho e Eduardo Cintra (intérprete do valente Luizão). Nós praticamos artes marciais e começamos como ele, éramos três “doidin” assistindo filme de luta e querendo ser Bruce Lee. Depois de estudar, praticar, deixamos de ser Aluísio, viramos Tora Pleura, mas vimos que lutador também se machuca, não consegue bater em dez caras sozinho, que existem regras. Aluísio vive várias coisas que nós vivemos.
JC – Em Cine Holliúdy você explora temáticas ligadas aos anos 1970. Já Shaolin se passa na década de 1980, abordando a febre dos filmes de luta. A intenção era mesmo fazer um tributo cronológico ao cinema?
Halder – São filmes que dialogam involuntariamente. Aluísio poderia muito bem ser um dos meninos que assistiam os filmes no cinema improvisado de Francisgleydisson (o protagonista de Cine). No primeiro existe aquele fascínio pelo cinema em si, de ir até lá. Aí nos anos 1980 o desejo das pessoas já era ter um videocassete em casa. Ano que vem chega Cine Holliúdy 2, com a continuação da saga do Francisgleydisson. Dessa vez a aventura será em torno do desejo dele de dirigir o próprio filme, fechando uma tríade involuntária e metalinguística de homenagem ao cinema e às coisas que eu presenciei no Ceará.
JC – Você chegou a viver nos Estados Unidos, mas voltou para o Ceará e ganhou projeção nacional com filmes que exaltam seu Estado natal. Por quê a escolha?
Halder – Não tenho formação cinematográfica acadêmica, então sabia que ir para Los Angeles seria um caminho para aprender a fazer o que queria. Lá fui dublê de cenas de luta, tive aulas de taekwondo. Hoje consegui o que todo cineasta almeja: o equilíbrio entre uma identidade própria de seus filmes e o sucesso mercadológico, minha obra tem maturidade. Mas meu lugar é aqui, eu não saio do Ceará, assim como Kleber (Mendonça Filho) não sai do Recife. Nossos trabalhos conversam muito nesse sentido, lançamos curtas-metragens e tivemos filmes aprovados em editais na mesma época. E agora ele lança Aquarius e eu chego com Shaolin, cada um falando sobre sua terra justamente por estar próximo a ela. São histórias feitas com paixão.