O Jardim das Aflições, de Josias Teófilo, é o filme mais comentado da 21ª edição do Cine PE. Apesar do diretor pernambucano afirmar que se esforçou para não deixar a política adentrar seu filme, a obra se tornou um símbolo do embate entre tendências políticas já que seu personagem principal, o filósofo Olavo de Carvalho, é um dos grandes ícones da direita brasileira e Josias também manifesta opiniões enfáticas contra ideias que fogem da lógica conservadora. Nesta quinta-feira (29), dia seguinte à exibição no festival, no Cinema São Luiz, Josias, o produtor Matheus Bazzo e Olavo de Carvalho (via videoconferência) participaram de conversa com a imprensa.
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Logo nos momentos iniciais do evento, Josias aproveitou para expressar sua felicidade pela sala lotada na exibição do filme. Também não perdeu a oportunidade de alfinetar seus críticos, principalmente o que considera ser um patrulhamento da imprensa em relação à sua obra. O realizador dominou grande parte da conversa e Olavo de Carvalho pouco falou durante os mais de 40 minutos de conferência, inclusive pelos problemas de conexão da internet. O filósofo aproveitou, no entanto, para fazer críticas à esquerda, à qual associa uma suposta queda no QI da população brasileira.
Entre os temas abordados por Josias está a politização do filme ("Virou símbolo de um radicalismo do qual não participo"), sua inspiração para iniciar a carreira no cinema ("Foi no Cine PE, aos 18 anos") e do valor de O Jardim das Aflições ("Acho que vai demorar muitos anos para o filme ser visto exatamente pelo que ele é").
VEJA ALGUMAS FALAS DE JOSIAS TEÓFILO NA VIDEOCONFERÊNCIA
OUTRO CINEMA
"Tá na hora de se abrir para filmes com sentido não só social, mas um sentido maior, espiritual, de transcendência. Sou fascinado pela obra de João Moreira Sales, você vê ali o filme de Nelson Freire, você vê alguma retórica a favor da música de Nelson Freire? Não. Ali, simplesmente, fala da transcendência a partir da música (...) O Cabra Marcado Para Morrer, ali também a gente pode dizer que é a transcendência através da memória (...) Então a gente vê que os grandes filmes nasceram de uma necessidade profunda, visceral, e não dessa coisa de 'ai, eu quero retratar a população', esses enfoques sociais, de lutas de classe, essa coisa que a gente vê tanto no cinema brasileiro e cansa".
OLAVO FILÓSOFO
"Minha amiga Daniela Gouveia, quando me mostrou Olavo de Carvalho, ela me mostrou os DVDs do curso online de filosofia, então sempre me interessei muito mais pelo Olavo de Carvalho que fala de filosofia, inclusive se você for na casa dele, todo mundo fala a mesma coisa, que o que existe de melhor em Olavo de Carvalho é a filosofia, evidentemente, até porque ele é um filósofo. O lado polemista é muito importante, mas não para o filme".
POLÍTICA
"Eu nunca falaria de atualidades no meu filme", ao que foi interrompido com a lembrança de que coloca cenas do impeachment da presidente eleita Dilma Rousseff. "Não acho [que as imagens] estejam descasadas. Todo filme vem de fora para dentro (...) O fanatismo quase religioso pela política que é o petismo. O petismo é a religião degradada (...) Mas o fanatismo político não é só do lado do petismo. Você vê Bolsonaro, por exemplo. Agora, nunca vi ninguém tirar filme de festival porque Aquarius estava junto. Nunca vi isso acontecer porque o outro lado não tem esse poder na cultura (...) Olhe, tentei ao máximo não deixar a política entrar no filme"
POLÊMICA COM DANIEL ARAGÃO:
"Sobre Daniel eu não vou comentar"
CONSERVADORISMO
"Gilberto Freyre é um pensador conservador, mas quem da esquerda não cita Gilberto Freyre? Nelson Rodrigues também era conservador. Os maiores cineastas da esquerda brasileira fizeram filmes sobre a obra de Nelson Rodrigues. Algumas das minhas principais referências no cinema são gente de esquerda: Joaquim Pedro de Andrade e João Moreira Sales. E os filmes deles são de esquerda? Não, isso não existe. Isso é uma piada"