Após estrear em 600 salas na última quinta-feira (6), a sequência Crô em Família foi o filme brasileiro mais visto nesse fim de semana, ocupando a quarta posição no ranking geral e rendendo pouco mais de R$ 2,4 milhões, segundo dados do portal Filme B. Na maratona de divulgação do longa nacional dirigido por Cininha de Paula, o protagonista Marcelo Serrado veio ao Recife junto com os atores Jefferson Schroeder e Luís Miranda na véspera do lançamento oficial.
Bem longe do glamour do afetado personagem nascido na novela Fina Estampa (2011), do pernambucano Aguinaldo Silva, Marcelo Serrado recebeu, de maneira despojada e pés descalços, a equipe do Jornal do Commercio no 26º andar de seu quarto num hotel em Boa Viagem. Na conversa, ele contou sobre a gênese do Crô.
“Eu vi o Crô numa boate gay – até o rapaz faz uma ponta na cena da morte nesse filme. Quando eu conheci esse garoto, chamado David Alvarez, o vi com gravatinha e o cabelo semelhante ao personagem. Aí eu falei: ‘Bicha, vamos ser amigos!’. E ficamos amigos. Ele não tem aquela voz, fui eu que coloquei, mas é impressionante como o Crô, criado para uma novela, ganhou um filme (lançado em 2013) e agora o segundo, então sou muito grato por tudo isso”, relatou Serrado.
Aos 51 anos, o ator carioca revelou ser muito distante do pintoso que interpreta. “Somos bem diferentes. Mas talvez eu tenha em comum com ele a alegria. Acho que sou um cara alegre, apesar do Crô ser mais alegre que eu. Mas ele também é muito dramático, uma bicha que sofre muito com tudo”, brincou ele, aos risos.
Casado e pai de três filhos, Marcelo Serrado acredita que Crô em Família quebra estereótipos. “O ser gay no filme não é uma questão porque o Crô já é homossexual. Tem vários gays na trama, mas não é um roteiro que levanta uma bandeira. É a história de um personagem que, por acaso, ele é gay”, explica.
Por abordar o universo LGBT de forma divertida, o longa traz vários personagens diretamente ligados ao movimento. Um deles é Luis Miranda, que reinterpreta no filme a transgênero Dorothy Benson, criada na novela Geração Brasil (2014). O ator baiano de 48 anos contou ao JC que não teve nenhuma dificuldade de reviver a personagem.
“Ela tá aqui, né? Ela tem muito a ver com a Sheila, um personagem que eu faço no espetáculo teatral 5x Comédia. Então, quando você bota a roupa, os acessórios e interlocutores como o Marcelo (Serrado) e o (Marcus) Majella, é como um espírito. Ela vem e flui”, afirma ele, que gravou toda a sua participação de uma só vez no último de gravação do longa.
Estreando nos cinemas como Geni, a melhor amiga de Crô, Jefferson Schroeder reafirma que o longa retrata o mundo gay com leveza. “Acho que Crô em Família bate nesse lugar em que as pessoas falam: ‘Com tantas restrições às opiniões das pessoas, como você pode fazer humor sem debochar de ninguém?’ Esse filme é a prova que você pode ficar ali mais de uma hora fazendo graça sem ter esse deboche. Você pode rir sem ferir uma pessoa. Ali não tem bullying por causa da sexualidade do outro. E isso é muito legal”, destaca.
GLAMOUR
Enquanto Crô fala no filme que “glamour não tem gênero e preconceito”, Marcelo Serrado responde o que não é glamuroso hoje em dia: “É ter preconceito. Você ser preconceituoso hoje em dia, em 2018, é um absurdo. Em momentos tão conturbados, difíceis na política, onde tem candidatos que se manifestam de maneira quase homofóbica, ter um filme como esse – apesar de não ter nenhuma ligação com isso – ou qualquer obra que tenha um personagem gay ou algo contra o preconceito é muito importante. Nem tempos atrás, nem hoje em dia, ter preconceito é uma coisa relevante. Já foi”.