A porta de entrada da Fenearte, considerada a sala de estar do evento, é a Alameda dos Mestres Janete Costa, pela importância e contribuição que eles têm para a cultura de Pernambuco. Sobre o tapete vermelho, nomes de todas as regiões do Estado dão boas vindas com seus trabalhos na madeira ou no barro, nas esculturas ou nos brinquedos populares. Os mestres são as celebridades da feira e o trabalho deles o objeto de desejo de colecionadores do Brasil inteiro.
Diversas tipologias, como barro, madeira, couro, tecido e fibras naturais, dão forma ao artesanato, resultado da manipulação da matéria-prima a partir da criação intuitiva ou da técnica transmitida de geração a geração. O que difere o artesanato de um simples trabalho manual é quando o criador consegue colocar na peça alma e identidade da região onde vive, ainda que depois ela seja criada, recriada e modificada pelos discípulos do artesão.
No entanto, existem peças que são únicas, exclusivas. “Quando você olha para o objeto consegue identificar de quem é”, complementa o arquiteto e um dos curadores e cenógrafo da feira, Carlos Augusto Lira, que prefere chamar essa arte não de popular, mas de espontânea. E a vê como primeira grande influência de qualquer artista. “Todo o erudito bebeu na fonte do popular”, afirma Carlos Augusto.
Pela primeira vez, um artesão índio estará inserido entre os 51 mestres escolhidos para ocupar a prestigiada alameda. Trata-se de Manoel Bezerra da Silva, integrante da etnia Kambiwá, que reside na Serra Negra, região situada entre as terras de Ibimirim, Inajá e Floresta. “Foi um reconhecimento ao trabalho autoral de Manoel, dedicado às cestarias e esculturas em madeira com temática religiosa”, defende a coordenadora do Programa de Artesanato de Pernambuco (Pape), Célia Novaes. Assim como outros mestres, Manoel também se dedicou a ensinar a outros índios da sua comunidade as técnicas que desenvolveu.
Professora de matemática, Célia começou a estudar artesanato quando o mesmo ainda era visto como um simples souvenir, e o seu criador, como um coitado. Não poderia existir ninguém melhor para destacar alguns nomes entre a extensa lista de mestres.
Caso de Vera Brito, natural de Vicência, a única da alameda a criar peças com palha de milho e fibra de bananeira. Ela transforma essas fibras em refinadas bonecas de época e anjos, além de santos e flores. “Foi a primeira artesã a fazer um São Francisco de palha”, acrescenta a coordenadora do Pape.
De Garanhuns, o mestre Wagner Porto faz de tudo um pouco. “Ele consegue transformar reciclados em peças sempre ligadas à cultura popular e é um mamulengueiro de mão cheia”, define Célia. A mestre Marliete, de Caruaru, é da família de Zé Caboclo, discípulo de Vitalino.
“Foi ela quem pintou os olhos de Vitalino, e fez com que a cerâmica parecesse viva”, conta a coordenadora, que não podia deixar de citar Seu Ezequias, que morreu este ano mas ainda teve a felicidade de ver seu nome entre os mestres, desde o ano passado.