Newton Moreno: "Os fantasmas são nossos mortos"

Em entrevista a Bruno Albertim, autor Newton Moreno comenta o sucesso de Amorteamo

JC IMAGEM
Em entrevista a Bruno Albertim, autor Newton Moreno comenta o sucesso de Amorteamo - FOTO: JC IMAGEM

Newton Moreno colhe os bons frutos de sua primeira grande investida na TV. Apesar de ter contribuído com episódios de sitcons de sucessos antes, é a primeira vez que assina um projeto do começo ao fim. Em parceria com Cláudio Paiva e Guel Arraes, o dramaturgo é responsável pelos textos da série  Amorteamo, dirigida pela também pernambucana Flávia Lacerda. Nesta entrevista ao Jornal do Commercio, ele conta como está vendo a série, que tem potencial e possibilidade de chegar aos cinemas.


JORNAL DO COMMERCIO -Por que esse interesse especial pelo melodrama?
NEWTON MORENO  –
O melodrama é um gênero poderoso, que foi sendo apropriado por várias linguagens e tem uma relação antiga com a TV, veículo bastante profícuo para seu desenvolvimento. O que mais me agrada nesta aproximação com o melodrama da série é a possibilidade de assumir tintas mais teatrais, derramadas, menos naturalistas. Adoro a urgência, a intensidade e a pulsação que ele impõe aos atores. Alia-se a isso o fato que estamos lidando com um melodrama do sobrenatural, em que as injustiças, traições e juras de amor eterno são cometidas também por mortos-vivos.

JC – A série será  editada para o formato filme?

NEWTON –Espero que sim. Nas reuniões, sempre circulavam muitas referências cinematográficas; filmagens do começo do cinema, melodramas do século passado e até filmes do universo fantástico. Acho que isso pode ser percebido na série. Acredito que a transposição não seria tão difícil. Está no DNA da criação do projeto.

JC – O que está vendo na TV é muito diferente do que viu nas filmagens ou na ilha de edição?NEWTON –  A edição é uma arte soberana no audio-visual. Nesta organização final, que se dá na sala de montagem, muita coisa é descoberta. Sim, há muitas surpresas. No ritmo, principalmente. Ou mesmo com a trilha sonora, que se transforma em texto, em narrativa, que conta a história junto com os outros elementos.

 


JC – Como andam seus projetos antigos para o cinema?

NEWTON – Havia um desejo antigo de realizar um curta com a RECFilmes; no aguardo de aprovações e editais. E sonho sempre em transpor algumas peças para o cinema, principalmente as realizadas com o grupo Os Fofos Encenam. Terra de santo me parece muito atual.


JC – Qual o grande trunfo da série?
NEWTON
– Adoro o fato de o programa promover no público este diálogo com a morte, com seus mortos. Minimamente, a série provoca uma reflexão sobre nossa finitude e o que virá depois. Esses mortos podem ser lidos também como “os fantasmas nossos” que não enterramos, que não aprendemos a perdoar. Mas, para mim, particularmente, acho um trunfo estar em terreno de tantos talentos pernambucanos. Ver essas forças dialogando, construindo juntos; me dá imenso prazer a direção da Flavinha (Lacerda), a interpretação, o roteiro, a trilha de Juliano Hollanda, etc..

JC – Se alguém fosse apresentado ao Recife através de Amorteamo, que impressões essa pessoa teria da cidade?
NEWTON –
Estamos num Recife muito específico, ficcional, do século passado e com ares de sobrenatural. Mas acho que a atmosfera de mistério, a sedução do povo pelas lendas urbanas, pelos territórios do mistério e da morte estão bem presentes, com uma pitada da sociedade dos sobrados e mocambos, uma herança da cultura do açúcar. Como reza a cartilha do mestre Gilberto Freyre.

JC – Como vem percebendo o elenco na tela?
NEWTON –
A série trouxe gente nova, equilibrando com veteranos talentosíssimos. Sempre fui fã do Jackson Antunes, o conheci à época de O rei do gado, do qual participei. Vejo no Aragão dele, embaixo de toda sua truculência, um homem ferido de amor. Letícia Sabatela é uma pintura na tela e salta da força trágica para uma doçura e encantamento de forma incrível. Acho que o triângulo jovem também harmonizou muito bem, Johnny (Massaro), Ariane (Botelho) e Marina Ruy Barbosa. Apesar de menos experientes, eles se lançaram de forma intensa na linguagem proposta. Marina pode mostrar um aspecto sombrio, estranho, ampliando seus recursos expressivos. Maria Luisa Mendonça é superlativa. E, claro, as forças da terra, Gheusa Sena, Paulo de Pontes, Lívia Falcão, Aramis Trindade, Gustavo Falcão, Adélio Lima e Bruno Garcia. A química de Aramis, Bruno e Guta Stresser só poderá ser apreciada mais para o fim da série, mas dá um caldo forte.

JC – O que está escrevendo atualmente?
NEWTON –
Para a TV, nada ainda de novo. Estou escrevendo, ou melhor, reescrevendo, uma peça:  BERÇOdePEDRA (sic). Estamos entrando em vários editais, ela será dirigida pelo William Pereira e contará no elenço com Luciana Lyra.

 

Veja entrevista concedida aos repórteres Bruno Albertim e Romero Rafael no link do blog Social 1:

https://blogs.ne10.uol.com.br/social1/2015/05/26/newton-moreno-criador-de-amorteamo-fala-sobre-a-serie-de-tv/

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