“Desculpe o transtorno, seguiremos em obras. Perdoe a bagunça, mas isso é revolução”. Foi assim que a apresentadora Fernanda Lima terminou o primeiro programa da 11ª temporada de Amor & Sexo, que encerra seu ciclo nesta terça-feira (11) na TV Globo, mostrando os melhores momentos desta bateria de nove edições inéditas. Em 2018, a atração amadureceu levando à luz um debate lúdico, urgente e necessário sobre juventude, diversidade de gênero, machismo, feminismo e racismo. Mas a efervescência do debate eleitoral acabou atingindo diretamente o programa, que acabou sendo vítima do público conservador, que promoveu boicotes nas redes sociais e causou recordes negativos de audiência para a emissora carioca a cada semana.
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Fernanda Lima, que também assina a redação final do Amor & Sexo, junto com Antonio Amancio – criador do formato – bem que tentou chamar todo mundo na edição deste ano, mas o pedido, infelizmente, não foi atendido. Logo na estreia, a atração falou da nova juventude, da empatia, da urgência de mudança, valores que estão esquecidos, principalmente nas redes sociais. Mas o ibope reagiu negativamente e entregou uma média de 10,4 pontos na Grande São Paulo, considerado o pior índice do programa em todas as temporadas até então.
Na semana seguinte, o amor pautou o programa. Sem nenhum tabu, ao abordar que se considera justa toda forma de amar, a rejeição em formato de baixos pontos no ibope seguiu firme. O alarme da emissora foi ligado em todo o País. No Grande Recife, por exemplo, enquanto que a média da temporada anterior foi de 19,4 pontos, as duas primeiras edições de 2018 já amargavam uma média de 8,8 pontos.
Na terceira semana, Amor & Sexo falou de família. E inclusiva como a atração é, tentou contemplar os mais diversos arranjos familiares: pai e mãe, mãe e mãe, pai e pai, mãe solo, pai solo, filho dele, filho dela.
O programa ainda trouxe em seu bloco final uma abordagem sobre a violência, que atinge todas as famílias. Levando convidados como o músico Marcelo Yuka – baleado no ano 2000 no Rio de Janeiro –, uma mãe que teve o filho assassinado por policiais militares, e outra mãe que teve uma filha PM morta por bandidos. No recado final, Fernanda Lima não segurou a emoção ao bradar que “família é coisa séria”, mas o recado, novamente, não foi ouvido pela maioria.
CONTRAPONTO
Enquanto o argumento de muitos que ignoraram o Amor & Sexo deste ano é de que Fernanda Lima não tinha autoridade para falar – pelo fato de não sofrer “algum tipo de discriminação” – ela não negou isso em nenhum momento. Por várias vezes, a apresentadora reforçou que, mesmo vivendo numa situação de privilégios, era necessário abrir espaço para quem precisava falar. Resultado: sempre foi atacada em suas redes sociais, com direito até uma polêmica com o cantor Eduardo Costa, que a chamou de “imbecil” publicamente pelo conteúdo “esquerdista” do programa. Pelo xingamento, inclusive, Fernanda acionou o artista na Justiça.
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Na última edição inédita, veiculada semana passada, a atração falou, respeitosamente, de felicidade em seus diversos âmbitos. Mas talvez esta não seja a palavra que defina a trajetória desta temporada no sentido de audiência e rejeição. O que é uma pena, pois Amor & Sexo sai hoje de cena consciente de que fez um bom trabalho. Com honrosas homenagens à Marielle Franco e Nelson Mandela, por exemplo, quem recebeu as mensagens veiculadas este ano repensou a forma de ver o outro, e é esse mérito que precisa ser levado em consideração. Afinal, a crise foi de ibope, não de conteúdo.
