CRÍTICA

O que Marx tem a dizer sobre a crise

Eric Hobsbawm e David Harvey fazem em livros análise marxista para entender a crise econômica

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 07/02/2012 às 6:00
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Karl Marx é um dos mais importantes teóricos das ciência humanas de todos os tempos. Sua interpretação do capitalismo, feita ainda no século 19, marcou diversas áreas de estudos acadêmicos e mudou os rumos da história política. Se desde a década de 1980 Marx perdeu espaço nas discussões acadêmicas e partidárias, agora, com a pior crise econômica dos últimos 70 anos, parece novamente se tornar atual, pelo menos na visão de dois pensadores: o historiador Eric Hobsbawm, autor de Como mudar o mundo: Marx e o marxismo (Cia das Letras, 424 páginas, R$ 57), e o geógrafo David Harvey, que lança O enigma do capital e as crises do capitalismo (Boitempo, 240 páginas, R$ 39).

Os dois livros enxergam, no momento atual, a possibilidade de reavaliar o pensamento marxista. A influência do pensador alemão sobre Hobsbawn sempre foi notória, presente na abordagem histórica de livros como Era dos extremos. Nessa coletânea de 16 artigos, escritos entre 1956 e 2009, o autor inglês defende uma interpretação mais pura dos textos de Marx, deixando de lado as teorias derivadas dessas obras.

Hobsbawn é um leitor ponderado de Marx, que busca justamente evitar o dogmatismo. “É absolutamente óbvio que grande parte do que ele escreveu está obsoleto, e que parte dos seus textos não é – ou não é mais – aceitável”, admite. Se nem todas as palavras do alemão podem ser tomadas literalmente, o mundo atual tem relações profundas com a base do seu pensamento. Para ele, a crise fez com que o mundo redescobrisse, depois do colapso da União Soviética, que “o capitalismo não é a solução, mas o problema”. O historiador ainda defende que a crise atual é o “equivalente da direita à queda do muro de Berlim”.

ANTICAPITALISMO
O enigma do capital, pela própria natureza do tema, é uma obra de maior detalhismo econômico. No livro, Harvey narra o processo que deu origem a crise atual não só a partir de seus antecedentes imediatos, mas também relacionando-a à lógica neoliberal. Segundo ele, segue-se uma receita básica: o Estado sempre vai resgatar bancos da crise e repassar os custos à sociedade.

Um dos exemplos da perversidade da crise é que, mesmo com dois milhões de americanos despejados em 2007, e outros quatro milhões correndo esse risco, Wall Street pagou no ano seguinte 32 bilhões de dólares em bônus a seus funcionários. Ainda que pareça um caso de irresponsabilidade pontual de alguns gestores, esse colapso, para o autor, tem muito em comum com outras crises recentes.

Leia a matéria completa no Jornal do Commercio desta terça-feira (7/2)

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