Outro clássico do modernismo cujos direitos autorais caducaram também está em alta no Brasil. Mrs. Dalloway, da escritora inglesa Virginia Woolf, sai neste ano por três editoras diferentes – Autêntica, Cosac Naify e L&PM –, depois de quase 70 anos sem uma nova tradução. O livro, o mais celebrado da autora, é uma impressionante síntese das técnicas modernas de narrativa e, assim como <Ulisses, se passa durante um dia, apesar de conter flashbacks que remetem ao passado.
Ironicamente, apesar das semelhanças de estrutura entre as duas obras, Woolf não considerava o livro do irlandês, escrito três anos antes, em 1922, uma obra-prima. No seu diário, até elogia alguns trechos, mas diz que o livro é “um fiasco”, “difuso”, “insosso”, “pretensioso” – sem dúvida, uma injustiça com Joyce. Para Alan Pauls, no posfácio da edição da Cosac Naify, que saiu agora pelas mãos de Cláudio Marcondes, Woolf viu em Ulisses “uma versão viril, empolada, narcisista do programa que ela mesma adotará”.
A primeira edição da obra no Brasil é de 1946, feita pelo gaúcho Mario Quintana. Em fevereiro de 2012, a Autêntica publicou a nova versão da obra, com tradução de Tomaz Tadeu. Além disso, a L&PM deve publicar o seu Mrs. Dalloway em junho, em versão de Denise Bottmann, que também está vertendo para o português os textos de Matando o anjo do lar e outros ensaios.
Para Tomaz, além fim da vigência dos direitos da obra, um dos motivos de tantas novas versões simultâneas é a antiga tradução de Quintana, descrita por ele como “precária”. Segundo ele, o poeta gaúcho comete erros crassos e sequer contemplou “a maravilhosa e estranha sintaxe de Virginia”. Denise, por sua vez, nota uma “demanda natural dos leitores por uma nova tradução”. “A pena é que os prazos de proteção dos direitos autorais sejam tão longos”, lamenta.
Como não podia deixar de ser, os dois concordam que Mrs. Dalloway é fundamental para a literatura ainda hoje. Tomaz destaca a incorporação criativa de técnicas literárias já existentes, usadas antes por Proust, Flaubert e Dostoiévski, e também a importância da obra tematicamente: “Estão ali tratados temas centrais da vida e da lida humanas”.
Denise diz achar fascinante a forma com que as técnicas narrativas de Woolf foram se consolidando na literatura, mesmo que quem use não saiba de que canto as tirou. “Neste sentido, é fundamental ler Mrs. Dalloway (e tantas outras obras) para se conhecer o que, hoje em dia, já é uma tradição literária: ou seja, para se criar uma certa bagagem cultural”, defende.
Leia a matéria completa no Caderno C, do Jornal do Commercio, deste domingo (6/5).