ARTES

A vida é uma aventura pulp barata

As narrativas e ilustrações do início século 20 ainda hoje influenciam autores na criação de novas obras

Diogo Guedes e Beatriz Braga
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Diogo Guedes e Beatriz Braga
Publicado em 30/09/2012 às 6:51
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As narrativas e ilustrações do início século 20 ainda hoje influenciam autores na criação de novas obras - FOTO: Reprodução
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Segundo o escritor e jornalista Xico Sá, foi das costelas do José Luiz Benício que Deus criou a “superfêmea, a pin-up, a heroína de pulp fiction”. O artista gráfico, em cartaz no Recife com a exposição As mulheres de Benício, no Museu Murillo La Greca, é considerado a maior referência das ilustrações de revistas pulp brasileiras, mas existe um problema nessa denominação. Quando ele mesmo é perguntado sobre a influência do pulp na sua obra, responde com outra pergunta: “Mas o que é o pulp mesmo? Desculpe, é que estou meio por fora”.

A dificuldade de definir o que é pulp não é à toa: é um tipo de publicação de papel barato, uma estética em si ou um fenômeno sociocultural? Na verdade, esse gênero massivo até se privilegia por essa confusão: não há nada mais atraente do que algo que os leitores têm dificuldade de capturar num conceito.

Pensando na origem do termo pulp, ele começa a nascer no final do século 19 nos Estados Unidos. Na época, as revistas mais prestigiadas de ficção tinham tiragens de 100 mil cópias – isso quando faziam muito sucesso. Eram impressas em papel cuchê, de alta qualidade, reunindo um corpo respeitado de colaboradores.

Foi o americano Frank A. Munsey que percebeu que havia um nicho de leitores e temas sendo ignorado. Em 1896, então, ele baixou drasticamente o preço das suas publicações, investindo em um papel mais barato e em material mais apelativo (tanto com enredos mais simples como com temáticas mais sensuais e atraentes). O que a revista perdia em prestígio (e, por vezes, em publicidade), compensava em vendagem: as tiragens das maiores chegavam facilmente a um milhão de exemplares.

O uso do papel “pulp” (papel tirado da polpa de árvores) em das publicações e livros pulp americanos terminou na década de 1950, mas foi por essa época que o modelo passou a ser copiado por outros países. No Brasil, teve seu auge entre as décadas de 1950 e 1970, com os catecismos (pequenas revistas de 32 páginas) eróticos de Carlos Zéfiro e a deslumbrantes ilustrações em guache de Benício.

ESTÉTICA BARATA
O escritor e designer gaúcho Samir Machado, editor dos quatro volumes da coletânea pós-moderna Ficção de polpa (aportuguesamento de “pulp fiction”), defende que pulp, ao menos na literatura, é um termo vinculado a um momento histórico. “Em termos estritos, costumo pensar na estética do pulp como uma coisa meio camp, exagerada e colorida, e cheia de pathos”, explica.

Já Xico Sá tem uma definição ainda mais apaixonada da expressão. “É uma aula de narrativa. Uma estética arrepiante que consegue reunir todas as formas de aventuras: a detetivesca, noir ou policial, erótica etc”, conta. O autor é um entusiasta da renovação do pulp, uma linha estética tão rica quanto “o kitsch, o brega, o peba, o cafona”. “Perder a vergonha de usar e assumir o pulp é um grande ganho do nosso tempo. O pulp desmantela e embaralha esse papinho safado de alta e baixa cultura”, provoca. Segundo o autor, o pulp não só é divertido, mas indispensável ainda hoje: “Sim, viver não passa de uma bagaceira pulp, uma aventura barata”.

Leia a matéria completa no Jornal do Commercio deste domingo (30/9).

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