ENTREVISTA

Xico Sá: "Minha vida sempre foi uma narrativa vira-lata"

O autor pernambucano fala ao JC sobre a influência do pulp na sua obra

Do JC Online
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Publicado em 30/09/2012 às 6:51
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O autor pernambucano fala ao JC sobre a influência do pulp na sua obra - FOTO: Divulgação
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Na entrevista abaixo, o escritor e cronista Xico Sá comenta um pouco sobre a influência de obras pulp na sua obra. Para se ter uma ideia, a capa do seu último livro Chabadabadá - Aventuras e desventuras do Macho Perdido e da Fêmea que se Acha (2010), foi ilustrado pelo mestre do gênero, Benício.

JORNAL DO COMMERCIO - Xico, falando sobre Benício, você comenta que o livro ZZ7 foi um dos que lhe ensinou bastante a arte literária. De que forma você considera que a estética pulp - a dos textos e a das imagens - é uma influência para sua obra?
XICO SÁ -
É uma aula de narrativa. Uma estética arrepiante que consegue reunir todas as formas de aventuras: a detetivesca, noir ou policial, erótica etc. No pulp está a maneira mais divertida de aprender a construir diálogos e de contar uma história. Um curso completo para jornalistas, jovens escritores e roteiristas.

JORNAL DO COMMERCIO - É possível falar um "cânone" do pulp brasileiro? Quem você incluiria nele? Seria exagero falar que Nelson Rodrigues ou Dalton Trevisan têm certa influência desse universo de histórias "baratas"?
XICO SÁ -
Nelson Rodrigues e Dalton Trevisan são obrigatórios. O mais antigo, porém, acho o Carneiro Vilela, não apenas com o clássico A emparedada da Rua Nova, como também com O esqueleto, uma história genial de assombração em Olinda. Mais: o genial Dr. Antônio autor de Memória de um rato de hotel, João de Minas com A mulher carioca aos 22 anos. Sem esquecer a turma da ficção científica e mistério que tem craques como Jorge Luiz Calife e Braulio Tavares. E temos o autor que mais escreveu livros pulp no mundo: o médico paulista Ryoki Inoue, autor de mais de mil livros do gênero.

JORNAL DO COMMERCIO - O pulp tem sido cada vez mais apropriado por artistas e autores contemporâneos para dar origens a novas obras. É uma estética (se é que é uma) que realmente fala também do nosso tempo?
XICO SÁ - É, o Tarantino faz isso lindamente no cinema e acaba instigando a rapaziada a buscar no pulp um vigor maior para suas obras, sejam literárias, cinematógrafias, fotográficas etc. É uma linha estética rica, como o kitsch, o brega, o peba, o cafona. Perder a vergonha de usar e assumir o pulp é um grande ganho do nosso tempo. O pulp desmantela e embaralha esse papinho safado de alta e baixa cultura. O pulp é a pura expressão do “tudo junto e misturado”, o maior sintoma dos anos 2000.

JORNAL DO COMMERCIO - As mulheres dos desenhos de Benicio, como você diz, estão por aí em bares. E os temas e relatos pulps, também são partes da nossa vida? De que forma?
XICO SÁ - Sim, viver não passa de uma bagaceira pulp, uma aventura barata. Minha vida sempre foi uma narrativa vira-lata na qual o detetive mais caricato sempre está de olho nas nossas merdas.

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