POESIA

Delmo Montenegro faz livro contra as mitologias do Recife

Nas páginas de Recife, no hay, o poeta pernambucano traz versos corrosivos sobre o mundo contemporâneo

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 09/03/2014 às 5:33
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Nas páginas de Recife, no hay, o poeta pernambucano traz versos corrosivos sobre o mundo contemporâneo - FOTO: JC Imagem
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Não acreditem na existência do “Recife”, a suposta capital pernambucana. Ou, ao menos, não acreditem na ilusão de um centro urbano dinâmico, amigável, carnavalesco, tradicional. Para ir contra os mitos (locais ou gerais) sobre nossa cidade, o poeta Delmo Montenegro escreveu o livro de poesias Recife, no hay (Cepe Editora, 108 páginas), uma das obras premiadas no Prêmio Pernambuco de Literatura.

Nos poemas, há uma visão corrosiva da literatura, do ufanismo, da cultura pop, do mundo contemporâneo. Delmo, autor de Ciao, cadáver e Les joueurs de cartes, traz um livro repleto do jogo de referências entre literatura (principalmente, a obscura e pouco conhecida), mundo pop e as mais diversas ciências naturais. Mais do que o Recife, são os elementos contemporâneos que perdem seus ares de ilusão em Recife, no hay – aqui, mesmo o afeto passa pelo crack e pelos acidentes, por exemplo. Baudelaire e Verlaine, claro, constam no livro, mas também estão nele Zappa, mitologias de todas as civilizações, João Lin, Carlos Pena Filho, Niemeyer, freyrianos, Delacroix, Hamlet, oncologia e Geração 65.

O livro poderia ser definido como um “por que não me ufano”. A imagem que moveu Delmo, ao criar o livro, foi a de um passeio pela Dantas Barreto após o Carnaval, em meio à sujeira e o cheiro que resta da folia. Se Ciao, cadáver é um livro mergulhado no estado pútrido da matéria e complexo de penetrar, dado o arcabouço teórico que mobiliza, as poesias de Recife, no hay são, em algum sentido, mais acessíveis, ainda que funcionem como colagens de fragmentos do mundo. Há momento para frases belíssimas, como “pertencemos a outra categoria de acidentes”, em The perfect stranger, poema no qual a imagem do equilíbrio possível entre duas pessoas nesse mundo são as músicas de Frank Zappa.

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