Se tentar definir o que compõe o conceito de literatura contemporânea não é tarefa simples, buscar entender quem a faz e quem está representado nela é ainda mais complexo. A partir da leitura e observação de todos os romances publicados por cinco das maiores editoras brasileiras, a pesquisadora Regina Dalcastagnè, professora da UNB, traçou um panorama quantitativo dos autores e dos personagens que constroem a produção atual. Uma das convidadas da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, no Centro de Convenções, nesta quarta (7/10), às 18h, ela faz uma palestra intitulada Ruídos, Interferências e Dissonâncias: O que Resiste na Literatura Contemporânea. Logo depois, às 19h, o poeta recifense Miró da Muribeca, um dos homenageados do evento, faz um recital com os versos do seu mais recente livro, aDeus (Mariposa Cartonera).
Leia Também
Regina já analisou os dados da produção de romances no Brasil entre 1965-1979 e 1990-2004; agora, concluiu uma pesquisa sobre a produção do período recente, entre 2005 e 2014. De 1990 para cá, em mais de 500 romances, os dados mostram que ainda há pouco espaço para a escrita de mulheres, que são menos de 30% entre os autores publicados, e até para personagens femininos, que são só 40%. Além disso, as mulheres se abrem mais para escrever sobre personagens homens do que o contrário.
Outra tendência forte que Regina aponta é da quase ausência de autores negros na literatura brasileira atual. No mesmo período, ela percebeu que menos de 5% dos nomes publicados eram negros ou pardos. “Precisamos de mais negras e negros, moradoras e moradores da periferia, trabalhadoras e trabalhadores escrevendo, não para coletar um punhado de ‘testemunhos’ (o nicho em que em geral são colocados), mas para que sua sensibilidade e sua imaginação deem forma a novas criações, que refletirão, tal como ocorre entre os escritores da elite, uma visão de mundo formada a partir tanto de uma trajetória de vida única quanto de disposições estruturais compartilhadas”, escreveu no artigo Por Que Precisamos de Escritoras e Escritores Negros?.
Também hoje, às 16h, a professora de linguística da UFPE Nelly Carvalho fala sobre como as expressões do nosso cotidiano expressam forma de preconceito, tanto de gênero como de lugar e cor. O acesso ao evento e às palestras é gratuito.