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Everardo Norões lança livros de poemas e contos na Arte Plural

Melhores Mangas e Wroclai serão apresentados quinta (16), na Galeria Arte Plural

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Publicado em 16/06/2016 às 11:28
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Melhores Mangas e Wroclai serão apresentados quinta (16), na Galeria Arte Plural - FOTO: JC Imagem
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Para Everardo Norões, o poema pode ser como uma fruta: deve ter sabor e, dependendo de sua potência, consegue deixar uma nódoa. O cearense radicado em Pernambuco continua a entregar em sua obra frutos suculentos, que a cada leitura acionam sensações marcantes e reflexões sobre a subjetividade e a acidez das contradições da sociedade contemporânea. Vencedor do Prêmio Portugal Telecom de Literatura em 2014, o autor apresenta seus dois novos lançamentos, Melhores Mangas, de poesia, e o livro de contos Wroclai, nesta quinta-feira (16), às 19h, na Galeria Arte Plural. Na ocasião, haverá bate-papo com o escritor.

Conhecido por seu esmero com a palavra e a preocupação com o que o rodeia, lançando mão de comentários sobre política e as estruturas da sociedade, Everardo tem um olhar aguçado, que não ignora os problemas que o cercam. Essa lucidez intelectual, no entanto, não o impede de enxergar também a beleza (sabor?) no absurdo, característica que já era perceptível em Entre Moscas, vencedor do prestigiado Portugal Telecom, e que também dá o tom de Melhores Mangas (Ed. Confraria do Vento), cujo título nasceu dessa visão de mundo. 

“É uma alusão às mangas de cemitério, consideradas as melhores. Abreu e Lima, general de Bolívar e herói das Américas, foi enterrado no Cemitério dos Ingleses, por lhe ter sido negada sepultura pelo bispo Cardozo Ayres. Essa ironia metafórica, se podemos dizer assim, reflete um tipo de sociedade que persiste até agora, com todas as suas sutilezas”, explica.

Essas contradições são também aprofundadas no livro de contos Wroclai (Ed. Mariposa Cartonera), que tem edição artesanal, com capas produzidas por Paulinho do Amparo e design gráfico de Patrícia Cruz Lima. A obra toma seu nome de uma música da banda alternativa Beirute. É essa canção que o personagem de um dos três contos que compõem a obra ouve enquanto assiste a um filme que desencadeia um processo de desconstrução do seu fazer artístico. “Ele se pergunta porque os quadros que pinta não conseguem refletir o que acontece na sociedade, como aqueles pintados pelos grandes clássicos, Brueghel, Bosch ou Goya”, elucida.

Esse cuidado em revelar nas suas palavras os meandros do tempo e da sociedade em que vive pressupõe, para ele, uma ressignificação da própria ideia que temos do nossos papel no mundo. Quando indagado sobre a importância da política na sua obra, Norões é enfático em afirmar que seu trabalho não é marcado pela definição que temos dado ao conceito. 

“Sei que você está chamando de política o que ocorre atualmente no país, algo apodrecido, cada vez mais distante de nós. Nesse sentido, minha literatura, minha poesia não está permeada do assunto. Percebo a política como outra coisa. Quando examinamos o que se passa em nossa volta com um sentimento crítico e com generosidade, ou seja, quando encaramos o verdadeiro lugar do homem e tentamos torná-lo melhor, aí sim, está a verdadeira política”, reforça.

Os textos de Everardo, por fim, são para ser apreciados como quem come uma fruta tirada do pé, tão gostosa que se degusta quase como quem devora, sem preocupação com sujar as mãos, a boca ou a roupa. 

Sobre sua poética, o autor é preciso ao descrever a procura por uma “utopia do texto”. “É a tentativa de construir dentro da escrita uma linguagem capaz de revelar alternativas ao existir. Porque, como disse, a falência da utopia é a cerimônia fúnebre do sonho”, completa.


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