ENTREVISTA

Wellington de Melo fala sobre projetos e desafios da Cepe Editora

O poeta e escritor assume o comando da Cepe Editora e planeja lançar 70 títulos em 2018

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 28/01/2018 às 8:00
Teresa Benassi/Divulgação
O poeta e escritor assume o comando da Cepe Editora e planeja lançar 70 títulos em 2018 - FOTO: Teresa Benassi/Divulgação
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Depois de seis anos na Coordenadoria de Literatura da Secretaria de Cultura de Pernambuco e cinco com a sua editora, a Mariposa Cartonera, o escritor Wellington de Melo vai assumir uma função que junta as experiências de gestor e editor. Agora no comando da Cepe Editora, ele se prepara para lançar cerca de 70 títulos em 2018. Em conversa com o JC, comenta os desafios e sua visão: “O livro com qualidade e a literatura devem circular, mas sem glamourização”.

ENTREVISTA

JORNAL DO COMMERCIO – Wellington, como você avalia o trabalho da Cepe Editora nos últimos anos?
WELLINGTON DE MELO – Há uma enorme mudança qualitativa no trabalho da Cepe Editora nos últimos dez anos. A existência de um Conselho Editorial com mandato determinado, a maior profissionalização dos quadros e o investimento na modernização do parque gráfico foram fundamentais. Recentemente, o presidente Ricardo Leitão tem investido no marketing e na reformulação do departamento comercial. A curva é ascendente.

JC – A Cepe Editora costuma ter vários projetos na fila para edição. Quantos livros estão planejados para esse ano? Pode destacar alguns?
WELLINGTON – Este ano a Cepe publicará um número recorde de livros (cerca de 70 títulos). Poderia destacar: História do Brasil sob o Governo de Maurício de Nassau (1636-1644), de Gaspar Barléus, a partir da tradução do latim da professora Blanche T. van Berckel-Ebeling Koning, da Universidade da Flórida, com prefácio e notas críticas da tradutora; na ficção, a reedição, em volume único, de quatro livros de Raimundo Carrero (Maçã Agreste, Somos Pedras que se Consomem, O Amor Não Tem Bons Sentimentos e Tangolomango); os romances Agá e Sol das Almas, de Hermilo Borba Filho, com prefácios críticos inéditos; uma coletânea de contos eróticos no Brasil, do século 19 ao Modernismo, organizada por Eliane Robert Moraes, com curadoria de Schneider Carpeggiani, pelo Selo Pernambuco; Teatro Completo de Luiz Marinho, numa edição com quatro volumes, organizada pelo professor Anco Márcio Tenório e o livro sobre a história do Teatro Popular do Nordeste, organizado pelo professor Luís Reis.

JC – Quais os planos e projetos que você pensa em implementar para a editora? Está pensando em mudanças?
WELLINGTON – Já implementamos um modelo de gestão que permite acesso em tempo real a todas as etapas do processo de edição, com interação entre todos os setores, o que e incrementará nossa eficiência.
Os prêmios literários da Cepe Editora serão lançados com inscrição online, o que reduzirá o gasto dos competidores com envio e será um ganho em sustentabilidade e gestão de resíduos sólidos, que já são política da Cepe.
A partir da análise das potencialidades de nosso catálogo, pretendo pactuar uma linha editorial para ser implementada nos próximos anos. Há muito pela frente.
JC – Quais são os principais desafios que acha que vai enfrentar? 
WELLINGTON – O trabalho do editor não acaba com a publicação do livro. A Cepe já vem investindo na nacionalização de sua atuação, com lançamentos em outros Estados, por exemplo. Lançamos agora o Teatro Completo de Joaquim Cardozo e já estamos articulando um seminário com relançamento dessa obra na Fundação Casa Rui Barbosa, organizado por Manoel Ricardo de Lima e Flora Süssekind. É preciso seguir nessa linha.

JC – Uma das questões principais de uma editora é a circulação dos livros, em livrarias e de outros meios. Tem projetos para difundir a produção da Cepe em Pernambuco e em outros lugares?
WELLINGTON – Com a ajuda do setor de marketing, a editora vem desenvolvendo um trabalho importante, como a descentralização de ações no interior (realização de feiras, participação em eventos). Ano passado superamos todas as metas de vendas para essas atividades. Há uma demanda reprimida, principalmente no interior. Em breve a Livraria Cepe Volante deve voltar à ação, repaginada, em espaços públicos, é uma frente importante. Há também o investimento no e-commerce, com a reformulação do site da editora, onde devemos começar uma produção sistemática de conteúdo, para dar visibilidade da qualidade de nosso catálogo. Sou cético quanto ao futuro das livrarias convencionais, mas a editora trabalha com várias redes, a despeito das dificuldades burocráticas que elas impõem. Uma das minhas missões será estreitar o diálogo entre editora, marketing e comercial, justamente para potencializar esses aspectos.

JC – A Cepe tem investido bastante em premiações literárias para inéditos. Acha que é um caminho para descobrir novas vozes? Vai ficar de olho em textos de novos autores que cheguem por outros meios também?
WELLINGTON – Prêmios literários são uma estratégia de fomento à produção, permitem aos autores e autoras menos disciplinados debruçar-se sobre seus textos de forma sistemática. Mas acho que é importante também estimular a submissão de originais ao conselho editorial, que vem realizando um trabalho importante.

JC – Você foi editor da Mariposa Cartonera e gestor público de literatura. Acha que as duas experiências podem ajudar no trabalho na Cepe? De que forma?
WELLINGTON – A experiência com o trabalho colaborativo ajuda a pensar alternativas criativas; o trabalho no setor público me deu a dimensão da política para a cadeia do livro, algo importante em uma empresa pública. Planejar e executar de forma efetiva tem sido algo que marca minha atuação, não mudarei agora.

JC – A edição de obras artesanais obedece a uma logística e a critérios distintos dos da Cepe. Qual é a principal diferença que você notou?
WELLINGTON – O produto é o mesmo: o livro. O livro com qualidade e a literatura devem circular, mas sem glamourização. Acredito na literatura no chão de fábrica, nas feiras públicas, “necessária como o pão de cada dia”, agora mais que nunca. Riam de mim quando falava isso anos atrás, na época da FreePorto. Diziam que minha entrada para o setor público mudaria minha forma de ver. Não sei se riem ainda. Eu rio muito e adoro o que faço. As condições de realização, a lógica do mercado, o processo de produção, etc., são apenas estilos de dança. O bom bailarino deve dançar cumbia ou tango colocando a mesma energia nos pés. Bailemos.

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