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Feira de Frankfurt termina com presença do público

Aberto para o público em geral nos seus dois últimos dias, o evento arrastou multidão de jovens

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 16/10/2018 às 19:57
Frankfurt Book Fair/Divulgação
Aberto para o público em geral nos seus dois últimos dias, o evento arrastou multidão de jovens - FOTO: Frankfurt Book Fair/Divulgação
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FRANKFURT – Da sexta para o sábado, a Feira do Livro de Frankfurt sofre uma espécie de mudança brusca. Se antes os corredores eram ocupados por editores, agentes literários, tradutores e escritores, além de um público interessado no processo editorial, o público cresce bastante e passa a ficar bem mais diversificado – a ponto de ser difícil caminhar por algumas das partes do evento.
A Feira de Frankfurt é singular justamente por esse formato híbrido: funciona como o principal balcão de negócios internacional dos livros, espaço para editores se encontrarem e trocarem experiências e também é, nos seus últimos dias, uma festa aberta ao público em geral. Assim, no sábado e domingo, saem os apressados profissionais e quem ocupa boa parte dos corredores são família e jovens, grande parte deles com fantasias superelaboradas para participar do encontro de cosplayer da feira.

Mesmo com um foco maior nos negócios, com a entrada paga e com só dois dias disponíveis ao público, a Feira de Frankfurt costuma atrair mais de 200 mil visitantes. É interessante comparar a feira com os eventos literários brasileiros, com um perfil distinto, focados em debates, como a Festa Literária Internacional de Parati (Flip), ou em lançamentos e vendas de livros, como as bienais e feiras de livros.

O principal foco dos visitantes do final de semana, claro, são as promoções das editoras alemãs – são os estandes mais lotados nesses dias. Expositores internacionais muitas vezes começam a deixar a feira após a sexta, pois as negociações já estão basicamente encerradas e existe pouca procura por livros em outros idiomas (grande parte das editoras, além disso, trazem obras apenas para exposição).

Ainda assim, o fim de semana continuou a marca do que foi a Feira de Frankfurt de 2018: um espaço amplo para se debater os direitos humanos, a liberdade de expressão e a democracia. Mesas sobre publicar enfrentando questões morais e autoritarismos foram constantes; mesmo em debates literários o tema se inseriu como fundamental.

Os escritores brasileiros presentes em Frankfurt neste ano divulgaram um manifesto em português, inglês e alemão para repudiar “a escalada fascista no Brasil”. “Alertamos para a eleição eminente de um candidato racista, machista, homofóbico, apologista da tortura e que advoga pelo extermínio de ativistas e das minorias”, escrevem João Paulo Cuenca, Bianca Santana e Geovani Martins. “Lembramos que, se o candidato é fascista, a maior parte dos seus eleitores não é. (...) Ainda há tempo de rever o próprio voto antes do segundo turno eleitoral, colocando o respeito às diferenças e à liberdade acima de disputas partidárias.”

MERCADO DIGITAL

Em boa parte do mundo, depois de um início promissor, a venda de e-books tem tido um crescimento tímido, quando não uma estagnação. Para um dos principais pioneiros do mercado de e-books na Alemanha, o consultor Sebastian Posth, que trabalha atualmente reunindo dados sobre vendas digitais de livros para ajudar editoras no seu planejamento financeiro, o cenário, no entanto, não é negativo.

Segundo Potsh, as pesquisas feitas pela associação nacional de editoras costumam tirar os seus dados de entrevistas com consumidores. “Eu não diria que as vendas digitais dispararam nos últimos anos, mas também não acredito que estejam estagnadas”, opina. “Algumas editoras apontam que entre 25% e 50% do seu faturamento já vem de livros digitais. Para livros de suspense, por exemplo, os e-books são excelentes.”

No caso alemão, Posth avalia que existem três cenários. O primeiro é o das editoras educativas, que produzem livros para escolas. “Elas são as que mais demoram a se adaptar, porque o formato impresso faz sentido e é difícil de mudar em colégios”, analisa. As empresas voltadas a livros acadêmicos tiveram uma adaptação mais rápida à nova realidade, mas no mercado de ficção e não ficção, ele aponta, quem investe primeiro nos livros digitais é quem termina tendo o maior retorno.

Para ele, uma das dificuldades do mercado de e-books é que lojas como o Google, a Apple e mesmo outras livrarias não compartilham informações das vendas com editoras. Além disso, por conta da lei do preço fixo, em vigor na Alemanha, há um limite para o desconto que uma livraria, física ou digital, pode dar para um livro – a ideia é evitar que lojas gigantes como a Amazon possam acabar com a concorrência com uma política de preços tida como desleal. “Por conta desse cenário, 47% das compras de livros ainda são feitas em livrarias”, comenta Potsh.

A receita das editoras alemães tem se mantido estável, mas, para o consultor, há sinais de declínio. A estabilidade na receita vem do aumento do preço, não da manutenção de vendas. “A associação dos editores está ciente que o grande desafio do mercado editorial hoje não é competir com o livro digital ou algo assim. É competir com a Netflix. Todos estão em busca de uma solução para isso hoje”, pondera.

O repórter viajou a convite do Consulado Geral da Alemanha em Recife

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