FICÇÃO

Marina Pedrosa lança livro de estreia pela Mariposa Cartonera

'A Mosca no Farabeuf' evoca a 'sacralidade da impureza' em narrativa sobre uma estudante de Medicina

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 06/08/2019 às 8:57
Foto: Nathalia Fonseca/Divulgação
'A Mosca no Farabeuf' evoca a 'sacralidade da impureza' em narrativa sobre uma estudante de Medicina - FOTO: Foto: Nathalia Fonseca/Divulgação
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De uma mosca que aparece em um ambiente que deveria ser meticulosamente higienizado parte o primeiro livro da escritora e médica pernambucana Marina Pedrosa. Por esse início, A Mosca no Farabeuf, mini-novela publicada pela editora Mariposa Cartonera, pode parecer justamente uma narrativa sobre a contaminação, a infestação: afinal, o inseto pousa em um instrumento usado para afastar tecidos ou músculos durante uma cirurgia delicada. No entanto, os caminhos da obra são outros, mais cheios de nuances e desvios.

Circulando entre o ciclo da vida, o fim de etapas e a medicina, o livro de estreia de Marina vai ser lançado quarta (6/8), a partir das 19h, em uma noite de autógrafos no Ursa Bar e Comedoria. A edição do livro é em formato cartoneiro, ou seja, com produção artesanal e capas únicas feitas em papelão reciclado, obedecendo sempre aos princípios da economia solidária.

A Mosca no Farabeuf começa com essa aparição da mosca em um bloco cirúrgico. Uma paciente está sendo operada, e a cena – assim como o restante da mini-novela – é vista pelo prisma de Marina, uma aluna de medicina na universidade, que auxilia a sua professora, Aurora. Em capítulos curtos, a autora vai construindo a narrativa aos poucos, mostrando momentos das aulas, a experiência na palhaçaria, a relação com os amigos, a reta final da formação e o contato com um paciente em especial.

O nome dele é Ivan, um adolescente de 16 anos que ela, Tiê e Ruan conhecem em uma cadeira do curso. Ivan convive desde a infância com uma sensação constante de cansaço, que leva a dificuldades para respirar e outros sintomas. Entre uma escrita simples, que busca demonstrar a empatia com os outros, e os termos médicos, a escritora narra uma história enternecida, em alguns ingênua, em outros sensível.

É ao olhar o ciclo da vida através da mosca, no entanto, que mini-novela mostra seu ponto central. O inseto é o oposto da limpeza, da higiene e da esterilização, todos elementos fundamentais da medicina. Passante casual em vários momentos da vida de Marina, a mosca pode ser algo diferente. Diz uma professora: “A higiene é nossa forma de controle, é nossa tentativa de frear o caos, mas a entropia só aumenta (...). Não temos o controle, na maior parte do tempo de nossas vidas. A mosca nos lembrou isso. Uma simples mosca, naquele ambiente, poderia pôr tudo a perder, mas, ao mesmo tempo, nos evoca a sacralidade da impureza também”.

CATÁLOGO

A Mosca no Farabeuf é mais uma obra pernambucana no catálogo da Mariposa Cartonera, que conta com autores como Micheliny Verunschk, Veronica Stigger, Sidney Rocha, Julián Fuks, Fabrício Corsaletti, Ronaldo Correia de Brito, Marcelino Freire, José Luiz Passos, Everardo Norões e Homero Fonseca. Recentemente, a editora tem investido em obras escritoras contemporâneas, como Julia Larré (Morfologia da Dor), Ana Nepô (Fragmentos da Não Existência) e a própria Marina.

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