Carnaval

O retorno do afrobudista Naná Vasconcelos

Percussionista, que se trata de um câncer no pulmão, começou a ensaiar para o Carnaval e prepara novo disco

Mateus Araújo
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Mateus Araújo
Publicado em 07/01/2016 às 6:31
Sérgio Bernardo/JC Imagem
Percussionista, que se trata de um câncer no pulmão, começou a ensaiar para o Carnaval e prepara novo disco - FOTO: Sérgio Bernardo/JC Imagem
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 “Respire fundo... Diga 33. Repita.” A orientação de um dos tantos médicos que compõem a equipe do tratamento contra o câncer de pulmão foi logo transformada por Naná Vasconcelos em música. Respire Fundo é uma das canções que estarão no novo disco que o percussionista planeja gravar neste ano; é uma das “cápsulas” da auto-medicação musical com que Naná, aos 71 anos, suplementa a quimioterapia iniciada desde setembro. 

Naná começou ontem a série de ensaios para a tradicional abertura do Carnaval do Recife, que reúne na sexta-feira, 5 de fevereiro, 500 batuqueiros de diferentes nações de baque virado para saudar a ancestralidade nagô que rege a festa de Momo. O primeiro encontro foi na sede do Maracatu Estrela Dalva, na Joana Bezerra; o próximo será amanhã, às 18h, no Pátio de São Pedro. Serão 17, ao todo, passando pelas 11 comunidades e, sempre às sextas-feiras, na Rua da Moeda, Bairro do Recife. Nos acertos, deve receber a ajuda dos mestres dos maracatus. “Eles se ofereceram para me ajudar”, conta. “Mas estarei em todos os ensaios”, garante.

Neste ano, com uma novidade: além dos maracatus, Naná leva para os holofotes da grande festa os caboclinhos. Os três grupos, Tupy, Kapinawá e União Sete Flexas de Goiana, vencedores de 2015 do concurso de agremiações realizados pela Prefeitura, abrilhantarão a celebração sincrética e percussiva. 

“Quero que os caboclinhos sejam vistos. Trouxe eles para a abertura do Carnaval para dar o espaço que merecem”, conta o músico, que convidou para a abertura, ainda, o cantor Lenine e a cantora Sara Tavares, de Cabo Verde, na África. A bailarina Bella Maia também faz uma participação especial.

À CURA

Em setembro do ano passado, Naná Vasconcelos descobriu que está com um câncer no pulmão – na mesma semana, recebeu a informação de que seria Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Desde então, voltou-se para o tratamento e ainda mais para dentro de si e para a sua espiritualidade. Entre as sessões de medicamento, Naná também mergulha em retiros espirituais e transformou a música em medicação. “Tocar faz parte da cura”, garante o artista, envolto de carinho e fé daqueles tantos mundos, povos e crenças com os quais ele convive.

Abatido? Jamais. Sorridente, brincalhão e otimista, o percussionista pernambucano tem sua criatividade ainda mais aflorada, cheio de planos para o novo ano, incluindo a gravação de um disco, já batizado: “Vai se chamar o Budista Afrobudista”, antecipa. Naná quer que o álbum seja gravado por uma orquestra, com arranjos de Egberto Gismonti – “Ele é a única pessoa que vai conseguir escrever o que eu penso. É único que entende a minha cabeça”. 

O respiro de Naná é a música e a força dele deve ser sua cura. Respira, Naná! 

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