Juvenal de Holanda Vasconcelos, olindense de Sítio Novo, começou a vida de músico ainda de calças curtas, tocando na noite com o pai, manejando as maracas e um bongô, numa época em que nos cabarés e gafieiras dançava-se merengues, boleros, mambos, cha-cha-chas, ritmos caribenhos em geral. Influenciado pelo jazz que escutava na rádio Voz da América. Entre programas de catequização ideológica, a emissora tocava Duke Ellington, Count Basie, Dizzy Gillespie, Art Blakey. Quando ele conseguiu comprar a primeira bateria, logo se destacou como um dos melhores bateristas de jazz do Recife. Quando ele foi para o Rio, tinha um compromisso assumido consigo mesmo. Conhecer Milton Nascimento, revelado no Festival Internacional da Canção de 1967.
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Fascinado pela música de Milton Nascimento, que não se encaixava em nenhuma corrente da MPB da época, Naná Vasconcelos foi à casa dele lhe dizer que tinha vindo do Recife para tocar com ele. Como Milton pareceu duvidar de sua capacidade, Naná contou que lhe fez uma demonstração com o que encontrou na cozinha, panelas, frigideiras, canecos.
Até então, não existia na música popular a figura do percussionista. Os instrumentos de percussão utilizados nos grupos eram quase todos de origem cubana, e tocados por um ritmista: “Quando cheguei no Rio encontrei Dom Um Romão, Edison Machado e Victor Manga, grandes bateristas que tocavam bossa nova, ou samba jazz. Ficava difícil pra mim, que vim do Nordeste, me encaixar naquela cena. Então encontrei Milton, que precisava de mim, como eu precisava dele”, explicou Naná Vasconcelos em entrevista a Scott Robinson, da revista americana Modern Drummer.
Foi a pessoa certa no lugar certo. Em 1969, o tropicalismo tinha botado lenha na fogueira da música popular. Mesmo com muita gente concluindo que a melhor saída para os músicos brasileiros era a do aeroporto, a MPB fervia e parecia estar esperando pelo pernambucano Juvenal.
Ele se tornou figura emblemática do udigrudi nacional, onipresente em discos de Jards Macalé, Equipe Mercado, Mutantes, para quem fez a percussão de 'Ando Meio Desligado', no LP 'A Divina Comédia'. “Teve noite de eu tocar com Milton e sair correndo para chegar a tempo de fazer o show de Gal Costa”, lembrava.
De repente não era o cara do pandeiro, da tumbadora, das maracas, nem o baterista. Era todos em um: “Acrescentei instrumentos de percussão à bateria. Acabou o ritmista, surgiu o percussionista”, diz Naná, lembrando que ao mesmo tempo, em São Paulo, o paranaense Airto Moreira também reinventava a bateria. Dentro de poucos anos, os dois mostrariam ao mundo a percussão brasileira, que seria copiada mundo afora.
Mas foi com Milton Nascimento que ele forjou seu estilo, em que camadas sonoras superpostas substituíram o baticum de tambores, caixas, pandeiros “A música de Milton não era bossa, não era samba. Em vez de fazer o ritmo, comecei a improvisar, imaginar uma paisagem para aquela música, criar sons para ilustrar as letras das músicas”, explica Naná Vasconcelos.
Ele trouxe para sua percussão o improviso do jazz que escutava quando adolescentes, os andamentos. A liberdade que descobriu nos discos de Jimi Hendrix aplicou na forma de tocar berimbau: “Não era simplesmente um instrumento feito para ser tocado na capoeira. Era um instrumento para ser tocado. Escutando Hendrix vi que os instrumentos não tem limitações”.