O mineiro Fábio de Carvalho tinha apenas 18 anos quando lançou Tudo Em Vão, seu primeiro álbum, em junho do ano passado. Empunhando uma guitarra distorcida, ele fez um disco frenético, cru e intenso: sob camadas sonoras barulhentas e empilhadas, Fábio, com sensibilidade apurada, entregava-se a um lirismo íntimo, tanto delicado quanto raivoso. Um grito preso, entranhado na alma.
Amanhã, às 23h, o músico apresenta-se em show gratuito no Capibar, dentro da programação do festival Dia da Música, junto com os pernambucanos da Namöa e Kalouv.
Tendo os pernambucanos da Amandinho como banda de apoio, Fábio de Carvalho traz consigo o vigor e a iconoclastia juvenil que permeia a Geração Pedida, coletivo de artistas mineiros do qual faz parte. Este grupo – que reúne os músicos Jonathan Tadeu, Lupe de Lupe, Fernando Motta, Paola Rodrigues e o poeta Marcelo Diniz – surge a partir do sentimento de não-pertencimento na História cultural local; um conflito de gerações, quando novos criadores não se reconhecem no oficial e buscam um novo caminho, às margens.
“A potência artística da Geração Perdida reside nessa fonte de não pertencimento. Todos que já lançaram alguma coisa pelo movimento passeiam por uma estética associada com ruído, crueza. É uma reapropriação da estética punk, indie dos anos 80, 90. Mas existe alguma coisa muito própria que é essa contextualização no Brasil atual”, analisa Fábio.
Sua música ressoa numa poética marcada principalemente pela pessoalidade, como nas faixas Sábado, entre 16:30 e 17:50 e L'arrivée D'un Train À La Ciotat, 1895, que se filiam ao modo de escrita de Nick Drake e Mark Kozelek, do Sun Kill Moon. “O meu exercício de produção tem sido um gesto de me voltar pra dentro. Eu não olho pra cidade, ou pra o que passa na televisão, isso não interessa tanto. É um gesto de se interiorizar, e reconhecer uma exterioridade que não necessariamente te machuca. É criar uma estabilidade interna, mas sentir empatia pelo outro”, afirma.
Preparando o seu segundo disco para julho, Fábio compara: “Eu nunca vou fazer um disco como Tudo em Vão, porque ele é muito adolescente, muito no momento. Mil coisas passavam pela minha cabeça naquela época, e meu cotidiano era um inferno de obrigações acadêmicas, conflitos pessoais e inseguranças, e em grande parte isso tudo passou”, conta. “Hoje eu me sinto mais seguro sobre quem eu sou, e tenho uma percepção melhor de mim mesmo em relação a outras pessoas. Eu não me misturo, ou confundo, com a frequência com que eu costumava fazer. Meu próximo disco vai refletir isso”.
Ainda sem título, Fábio diz que o registro deve trazer uma pegada mais spoken word – linha a qual segue Vitor Brauer, produtor de seu primeiro disco.
“Minhas expectativas são que a produção seja menos lo-fi. Talvez seja um EP, talvez seja um disco cheio, eu realmente não sei. Ele vai ser bem diferente do primeiro em alguns aspectos, e isso já justifica sua existência pra mim. É um momento novo, uma vivência nova. Estou ansioso pra tocar algumas músicas novas no show”, antecipa.
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Desde o ano passado, Fábio vem figurando em blogs de música independente. Porém, aos 19 anos, ao invés de traçar grandes planos, prefere viver o momento. “Eu não quero pensar muito a frente. Eu vou continuar fazendo isso enquanto eu tiver vontade, enquanto a coisa toda estiver me fazendo crescer de alguma forma. Música. pra mim. é sobre crescimento, sobre elevação mesmo. Eu faço músicas desde 2011, 2012 e nunca pensei que chegaria onde eu estou. Eu recebo mensagens direto de pessoas do país todo que só querem me agradecer pelo meu disco, e isso já é mais do que eu jamais podia pedir”, finaliza.
MINI FESTIVAL
Além de Fábio de Carvalho, a noite do Capibar também conta com show das pernambucanas Kalouv e Namöa. Voltando de uma turnê pelas regiões Nordeste e Sudeste do País, a Kalouv chega mostrando novidades. "Vamos tocar cinco ou seis músicas ainda não lançadas, mas duas delas vão sair agora em julho. Faremos um pouco diferente dessa vez. Cada single vai ser exclusivo de um selo: pela Sinewave (SP) e outra pela Bichano Records (RJ). Na mesma hora e mesmo dia!", antecipa o guitarrista Túlio Albuquerque.
Já a Namöa, em sua primeira apresentação ao vivo, trará um repertório com influências de shoegaze e post rock, totalmente diferente de seus dois álbuns lançados no início do ano.
Show de Fábio de Carvalho, Kalouv e Namöa
Sábado (18), a partir das 23h
No Capibar; Rua Tapacurá, 101, Casa Forte
Ingressos: gratuito, com contribuição voluntária de 2 kg de alimentos