LANÇAMENTO

As doses de amor e veneno de Romero Ferro

No álbum de estreia, 'Arsênico', pernambucano mescla tributo à roupagem oitentista. Show de lançamento será hoje, no Teatro Apolo

NATHÁLIA PEREIRA
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NATHÁLIA PEREIRA
Publicado em 09/10/2016 às 7:00
Foto: Lana Pinho/Divulgação
No álbum de estreia, 'Arsênico', pernambucano mescla tributo à roupagem oitentista. Show de lançamento será hoje, no Teatro Apolo - FOTO: Foto: Lana Pinho/Divulgação
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Nas características de um veneno com poder de matar em poucos dias é que moram as temáticas exploradas pelo cantor e compositor Romero Ferro em Arsênico, seu disco de estreia disponível para audição em plataformas de streaming desde o fim de setembro. Com a substância homônima, – referenciada no pequeno vidro que o músico encara na arte da capa – , a criação musical, produzida pelo carioca Diogo Strausz, compartilha a dualidade existente também nas relações humanas, com base em arranjos criados a partir do soul, do funk e do rock oitentista. O resultado da ideia sugerida por ele poderá ser visto hoje, às 19h, durante apresentação oficial de lançamento do álbum, no palco do Teatro Apolo.

“O arsênico é um veneno letal que serve de antídoto pra ele mesmo, assim como os amores e venenos do mundo”, diz o garanhuense de 25 anos. Nas dez faixas autorais, ele versa, sobretudo, a respeito da contemporaneidade, em dúvidas comuns entre vários dos artistas de sua geração – padrões, medos, angústias, caminhos, amor, desamor. A criação, explica ele, se deu num processo de mais de um ano. 

“Desde o lançamento do EP (Sangue e Som, 2013) eu vinha amadurecendo a vontade de fazer um disco completo, mas sem muita ideia de como seria. Procurei um produtor pra me ajudar nesse trabalho e, numa conversa com (Marcelo) Jeneci, cheguei no nome de Strausz, que havia produzido recentemente o Rainha dos Raios, de Alice Caymmi, e lançado seu primeiro CD autoral, o Spectrum Vol 1, dois ótimos discos. Ele já tinha uma viagem marcada pro Recife, foi então que nos encontramos e começamos a conversar”, contou Romero.

Foi de Strausz a sugestão de escolher um conceito, os anos 1980, a partir do qual Romero pôde se dedicar a escrever sobre o contemporâneo ao mesmo tempo que em que dialogava com uma década que ele, filho dos anos 1990, não viveu. “Mas ela me remete a muitos dos meus ídolos que tiveram ascensão nesse período. A Rita Lee tinha acabado de sair dos Mutantes pra entrar em carreira solo, o Cazuza estava em plena fase rock, naquela explosão do Barão Vermelho, fora Lulu Santos, Tim Maia”. Os brasileiros, de acordo com ele, são especiais, mas os ícones internacionais Michael Jackson, Steve Wonder e Madonna também o influenciaram.

“Eu quis levantar uma bandeira em cada música, com temas atuais, mas não novos. Na década de 1980 os artistas que eu homenageio já falavam sobre eles, o que muda é o contexto. Temos tecnologias mais avançadas, internet, mas passamos pelas mesmas coisas. Música é um instrumento educativo, que pode provocar mudança, pensamento, e eu gosto de utilizá-la desse jeito, quero que as pessoas que ouçam meu disco tenham acesso a essas discussões. O conjunto fala daquela coisa yin-yang, dos dois lados que se completam, porque as coisas – o medo, o amor - em excesso podem ser perigosas". 

Os arranjos e a coprodução de Arsênico ficaram a cargo de Amaro Freitas, que assumiu também os teclados na banda composta ainda por Patrick Laplan (bateria), Guilherme Eira (guitarra), Nego Henrique (percussão), Nilsinho Amarantes (Trombone), Fabinho Costa (Trompete) e Liudinho Souza (Sax), além do coro com as irmãs Sue e Surama Ramos. Sue, aliás, será uma das convidadas para o show de hoje, junto a Cannibal, da Devotos, Mônica Feijó e Almério.

“Esse trabalho me representa completamente, foi tudo muito natural, fluido, mas também há o mérito de Strausz, que tem esse poder de traduzir o artista nas produções. Quem ouvir Arsênico e por acaso vir conversar comigo vai ver que eu estou inteiro ali”. Sem ter pensado previamente em algo completamente autoral, o cantor não descarta ir novamente a estúdio, dessa vez, para gravar composições de outros autores. “Também quero dividir os vocais com alguns nomes”, encerra.

VIDEOCLIPE

O primeiro videoclipe de Arsênico, dirigido por André Brasileiro, foi lançado na  última quinta-feira (6). A versão imagética de O Medo em Movimento (segunda faixa do disco) traz Romero preso, hora com as mãos algemadas, outras vezes por criaturas sem rosto. 

Roteirizado por ele, em parceria com Carol Silveira, que assina também a direção criativa, o vídeo aposta em diálogos com as recentes discussões políticas, sugeridas em algumas das passagens. “O medo causa esquecimento / No chão do asfalto / Um beijo roubado / Um caso de desassossego / Um solo calado / Tão brando, engasgado / O medo tá em movimento”, canta ele. 

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