Memória

Expedito Baracho deixa sua marca no cenário seresteiro de Pernambuco

O artista faleceu no sábado (27) e foi sepultado no domingo (28) com a presença de inúmeros colegas e admiradores

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 28/05/2017 às 17:07
Foto: Alexandre Belém/Acervo JC
O artista faleceu no sábado (27) e foi sepultado no domingo (28) com a presença de inúmeros colegas e admiradores - FOTO: Foto: Alexandre Belém/Acervo JC
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Expedito Baracho aprendeu violão ainda criança e tomou gosto por cantar quando morava com os pais na pequena Jucurutu (RN), no Sertão do Seridó. Veio para o Recife em 1948, a fim de estudar, mas descobriu que na Rádio Clube de Pernambuco havia um programa de calouros e um bloco chamado Calouro Improvisado, que ia ao ar no domingo pela manhã, apresentado por Zé Edson”. "Quem estivesse no auditório podia participar. Eu ganhei um mês inteiro, 20 mil réis o cachê. Tinha facilidade de cantar, pegava o violão e ganhava todas. O patrocinador não gostou, reclamou que o programa estava perdendo a graça e mandou me cortar. Fiquei sem ganhar dinheiro, e pedi a Zé Edson que me arranjasse uns bicos, pra eu me apresentar nos programas da Clube sem ser em programa de calouros” contava Expedito.

Ele começou a cantar, sem ser contratado, em programas noturnos da PRA-8: “ Pela primeira vez cantei com piano, quem tocava era Antonio Parílio, muito bom e famoso na época. Tomava uma cachaça desgraçada, era bem magrinho, quando tomava além da conta, a mulher levava ele pra casa nos braços. Quem acompanhava os cantores na Clube era a jazz band Acadêmico. Uma vez, quando acabei de cantar, um rapaz veio falar comigo, perguntou se eu queria fazer um teste porque eles estavam sem um crooner. Tinham aparecido uns caras pra cantar, mas não passaram. A Jazz Band na época era racista, não entrava preto, só tinha gente branca, estudante”, continuava Baracho, que começou a se destacar no microfone da rádio.

Não demorou foi convidado para a Rádio Jornal do Commercio, que passava por uma crise de talentos. Por mais importante que fosse, com transmissores potentes que alcançavam realmente o mundo inteiro, ainda assim era uma emissora de província. O sucesso do artista continuava sendo paroquial. De repente, começou a revoada dos principais nomes da emissora para o Rio de janeiro (alguns também para São Paulo). Saiu primeiro Luiz Bandeira, depois Paulo Molin, Aluísio Pimentel, e de uma só vez José Tobias, Sivuca e sua mulher na época Terezinha Mendes:
“Saiu a nata, tudo de uma vez. Eu cantava na jazz Band Acadêmico, e o pessoal da Jornal veio me procurar. O diretor na época era Joel Pontes um que era de teatro, morreu faz muito tempo. Ele veio falar comigo. Pedi na época três contos de reis, um contrato de três anos. Vieira, o gerente, exclamou ‘Você tá doido! quer ganhar mais do que eu? Ele me ofereceu um conto e quinhentos. Eu disse que não queria, mas com uma vontade danada de aceitar. Ser da Radio Jornal naquela época era feito ser da Globo hoje, top de linha” , recorda Baracho.

VOZ DE OURO

Foi aí que Claudionor Germano, que ele considerava seus “irmão mais velho”, entrou em ação: “Então Claudionor chegou pra mim e me disse, assina, e mostra que você é o maior cantor daqui, o maior de Pernambuco. Assine e mostre a eles. Foi quando Amarílio Niceias veio e me aconselhou que também assinasse. Você não tem nada a perder. Vai ficar só na Jazz Band fazendo baile?"
Inicialmente escalado para programas matutinos, Expedito Barcha teve o talento reconhecido e passou a cantar à noite, no horário nobre. Só não lhe aumentaram o salário. As normas do doutor Pessoa de Queiroz eram rígidas. Aumento só depois de cada período do contrato progressivo.

Expedito Baracho não demoraria muito na Jornal do Commercio, no começo dos anos 60 foi tentar, como se dizia então, “vencer no Sul”. Foi crooner em São Paulo, no grupo de Djalma Ferreira, em que casais saíam para dançar. Dividia o microfone com Jair Rodrigues, tornou-se cantor da noite requisitado na capital paulista, o que ia de acordo com seus hábitos boêmios. Mas também não se demoraria . Três anos depois, voltou ao Recife e se tornou ,com Claudionor Germano, como veremos adiante, a dupla mais requisitada para os bailes de Carnaval, e para gravar discos de frevo.

Expedito Baracho estreou em disco em 1956, num 78 rotações pela Rozenblit (com selo Mocambo), com as canções Perdão (Gilberto Milfont e Benny Wolkoff) e Beco da Maldição (de Dozinho). Lançou alguns clássicos como Modelo de Verão e Quando se Vai um Amor (ambas de Capiba), gravou álbuns clássicos como o Carnavalença (1976), com repertório inteiro dedicado à música dos irmãos Valença. Mas, no fundo, tinha alma de seresteiro, tocou vários projetos de seresta.

Até os anos 80, ele foi bastante atuante, no 90 desacelerou e nos anos 2000, tornou-se quase um recluso, morando, sozinho, num pequeno apartamento em Casa Caiada. Orgulhava-se da boa memória, lembrava-se dos mínimos detalhes de sua trajetória e das pessoas com quem conviveu, mas guardava, materialmente, um mínimo delas em casa. Fotos no álbum e somente alguns dos títulos da sua discografia, que não foi apenas de frevos. Ele cantava quase todos os gêneros, e muito bem.

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