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Música africana: novos discos mostram diversidade musical do continente

Confira uma seleção de álbuns de artistas contemporâneos de diferentes países

JC Online
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Publicado em 14/08/2017 às 9:40
Foto: Divulgação/ Crammed Discs
Confira uma seleção de álbuns de artistas contemporâneos de diferentes países - FOTO: Foto: Divulgação/ Crammed Discs
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Maior nome da música africana, o multinstrumentista nigeriano Fela Kuti (1938–1997) tornou-se um ícone do ativismo pan-africano e, acima de tudo, conquistou o mundo com o afrobeat. Apesar da (merecida) fama e reconhecimento do afrobeat, a música da africana não se restringe a ele. De fato, a diversidade e complexidade cultural é tão enorme que não faz sentido falar em música africana como uma espécie de gênero ou classificação. Uma série de discos novos (confira uma seleção abaixo com 11 títulos) nos dá a dimensão desta riqueza.

Grandes lendas – como o jazzista etíope Girma Bèyene e a big band afro-cubana Orchestra Baobab – fazem seu retorno triunfal, ao mesmo tempo em que o supergrupo Kasai Allstars avança com a polirritmia típica de Kinshasa e o ganês King Ayisoba consolida sua carreira com seu quinto álbum e as pérolas perdidas da parceria Denis Mpunga e Paul K. são resgatadas. Há também duas coletâneas especiais. Gao Rap: Hip Hop From Northen Mali mostra recombinações incríveis do Rap com Reggaeton e Ragga. Por sua vez, Sounds of Sisso é uma mostra de como a polirritmia eletrônica da África (neste caso, da Tanzânia) é arrebatadora, especialmente quando comparada à produção eletrônica europeia mais regrada.

Vale destacar que Sounds of Sisso é um dos cinco discos do maravilhoso catálogo do Nyege Nyege Tapes, selo de Uganda criado este ano e que marca um ponto de virada interessante na música do continente africano. Certos selos britânicos ou americanos dedicados à chamada “World Music” afirmam em slogans que “erradicam fronteiras” (estas, no caso da África, construídas pelos próprios europeus). Por sua vez, o Nyege é a África falando por si, sem o exotismo embutido do colonizador.

NOVOS SONS DA ÁFRICA: 10 (+1) DISCOS

Otim Alpha – Gulu City Anthems (Uganda)

O estreante (e maravilhoso) selo Nyege Nyege Tapes apresenta o primeiro lançamento internacional de Otim Alpha, pioneiro da música eletrônica de Uganda. Otim Alpha começou a reinterpretar as canções da Larakaraka (uma dança popular entre os jovens do país) através de software de computador. O resultado: uma polirritima eletrônica louca e acelerada.

Awa Poulo – Poulo Warali (Mauritânia/Mali)

Awa Poulo é uma cantora da etnia Fula (também chamada de Peulh) e vive no vilarejo Dilly, na fronteira da Mauritânea com o Mali, onde habitam vários povos distintos. Sua música combina a musicalidade Fula – flauta desenhando um clima morno, xiquerê – e do Mali (guitarras levemente distorcidas, polirritmia intricada). Um dos grandes discos do ano. 

VA – Gao Rap: Hip Hop From Northen Mali (Mali)

Coletânea que cobre a última década da cena rap, que circulava em comércio informal de MP3. É uma reelaboração do rap tradicional em estúdios caseiros, só no computador e sentetizador, incrementado com umas levadas meio Ragga e Reggaeton.

Denis Mpunga e Paul K. – Criola (Congo/Bélgica)

Denis (voz e percussão), aos 13 anos, e sua família deixaram o Congo e partiram para Bélgica, onde fez amizade com Paul (eletrônicos). O EP resgata algumas das músicas gravadas dupla entre 1980 e 1984 em LPs e fitas cassete raros. Em meio à febre da World Music dos anos 80, a dupla buscava desmistificar a imagem preconcebida da música africana.

King Ayisoba – 1000 Can Die (Gana)

Os tradicionais tambores de Gana com beats eletrônicos, flows e corporalidade de hip hop. E ainda tem a presença marcante do kologo, um alaúde de duas cordas que Ayisoba toca com maestria – destaque para Africa Needs Africa e Wekana. Um rap ancestral cosmopolista.

Kasai Allstars e Orchestre Symphonique Kimbanguist – Around Felicité (Congo)

Trilha sonora do filme Felicité, do franco-senegalês Alain Gomis. O supergrupo Kasai Allstras leva adiante o chamado “congotronic”, um mantra rítmico executado pelos likembés (um piano de dedo com som elétrico e metálico). A Sympnique traz belos arranjos para peças do compositor estoniano Ärvo Part.

V.A. – Sounds Of Sisso (Tanzânia)

Uma mostra da cena eletrônica que há 15 anos circula pela megalópole Dar Es Salaam. Originada nos bairros periféricos, a sonoridade consiste em batidas hiperaceleradas e loops frenéticos, misturando influências da House e do Taarab (espécie sincretismo musical da cultura muçulmana e da costa leste africana muito popular nas ilhas Zambibar, litoral do país). Outro lançamento fundamental do Nyege Nyege Tapes.

Oumou Sangaré – Mogoya (Mali)

Oumou Sangaré é uma diva em seu País, tida como referência por muitas cantoras da nova geração. Este é seu primeiro álbum em oito anos. No groove de Yere Faga (com o lendário baterista nigeriano Tony Allen), no rock de Fadjamou ou na delicadeza da faixa título, a voz de Sangaré tem um brilho próprio inexplicável.

Orchestra Baobab – Tribute To Ndiouga Dieng (Senegal)

O primeiro disco da grande banda de baile de Dakar em dez anos é uma homenagem a Ndiouga Dieng, antigo vocalista do grupo. Uma mistura deliciosa dos ritmos do oeste africano com o balanço da música cubana.

Tinariwen – Elwan (Mali)

Talvez a banda africana mais popular do mundo, os músicos do Tinariwen são da etnia tuareg, povo nômade que habita o Saara e norte da África. Este disco foi gravado na França e na Califórnia, onde contaram com apoio de Mark Lannegan (ex-Screaming Trees) e Kurt Ville. Instrumentos de cordas tradicionais, camadas de percussão e uma guitarra hipnótica guiando tudo – o que rendeu o título infame de “Led Zeppelin do deserto”.

Girma Bèyènè & Akalé Wubé – Éthiopiques vol 30: Mistakes on Purpose (Etiópia)

Bèyènè é uma lenda do jazz etíope. Nos anos 1980, quando o País vivia uma ditadura, ele exilou-se nos EUA, onde sofreu com a falta de emprego. Em 2008, ele e outros músicos refugiados foram homenageados no festival de jazz de Addis Abeba e decidiu ficar por lá de vez. O álbum marca o glorioso retorno do cantor e pianista. Jazz, funk e soul para os aficionados por groove.

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