“Eu acho que não dei cinco entrevistas na minha vida inteira. Essa deve ser a quinta”: a humildade e a timidez de Elvis Soares Pires Ferreira quase ofuscam a potência dele na cena brega de Pernambuco. Nascido e crescido em Olinda, o guitarrista não tem o remelexo do rei do rock, no qual seu primeiro nome faz menção, mas é com sua música e, principalmente, suas composições que ele faz plateias inteiras cantarem suas palavras que saem da boca de vários artistas, de Vício Louco a Marília Mendonça. Parafraseando seu maior sucesso atual, em matéria de hits populares, “só dá” Elvis Pires.
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O Jornal do Commercio conversou com o músico e compositor em um estúdio de gravação em Olinda, um dos berços de suas criações. Lá, Elvis contou que seu primeiro contato com a música veio com o pai, com quem aprendeu as primeiras notas de violão. Durante um ano e meio, buscou se especializar na área e estudou violão clássico em um conservatório.
Sua primeira experiência com bandas, entretanto, não foi no brega, mas no forró, na primeira década de 2000. “Juntei os amigos de infância e montamos o Forró do Litoral, mas fazíamos mais ensaiar do que tocar”, recordou. Pouco tempo depois, ao ver a demanda crescente do brega em Pernambuco, foi o primeiro a deixar o conjunto. Junto com seu parceiro de Litoral, o então sanfoneiro Keka Aguiar, criou com mais duas pessoas a Banda Vício Louco. Ali nasceu o seu primeiro grande sucesso: Obsessão (Cinco da Manhã), uma versão em português da música Obsesión, da banda dominicana Aventura.
“É mais uma tradução do que uma versão. Nós diminuímos a música original, tiramos algumas palavras e substituímos outras que a gente não entendia”, conta Elvis, que escreveu a letra em parceria com Keka, e é um dos hits do brega pernambucano.
Após perder o Keka numa tragédia durante um show, Elvis se afastou da Vício Louco por não ter mais clima de tocar. Em seguida, ajudou a fundar a Banda Kitara (onde ficou até 2013), que estourou com a autoral Brigas de Amor (de Elvis, Rodrigo Mell e Luis Fraga), regravada por Aviões do Forró mais tarde. “Essa foi gravada ainda num microsystem, pois nem estúdio a gente tinha ainda”, relembra.
Ainda na Kitara, ele conheceu Priscila Senna, que no começo, ainda era vocalista da Mistura do Calypso. Ao precisar gravar duas músicas, Elvis cedeu para a jovem cantora Novo Namorado, composta em parceria com Rodrigo Mell, que estava reservada para a Kitara. Resultado? Outro grande sucesso.
Hoje, Elvis segue como guitarrista da banda Loira Marrenta, e é casado com a vocalista Carlinha Alves. Nesse meio tempo, faz participações especiais na Banda Musa, colabora no repertório de bandas como Boa Toda e A Favorita, que tem aproveitado o sucesso nacional do megahit Só Dá Tu, uma versão de I Got You da cantora pop Bebe Rexha. Uma criação que, segundo ele, surgiu em apenas cinco minutos.
"Só Dá Tu nasceu em cinco minutos. Conheci a música da Bebe Rexha através da Rafaela (vocalista d'A Favorita). De cara eu gostei e pedi para fazer a base brega em cima da versão original. As pessoas cobravam a letra e ainda não tinha. Marcaram uma gravação em estúdio com a Rafaela, mesmo sem a letra ter sido criada, e na hora eu escrevi", explica Elvis. A expressão "só dá tu", segundo ele, veio através da sonoridade da pronúncia da Bebe Rexha.
Com cerca de 400 músicas cadastradas no Ecad (órgão responsável pelo registro de direitos autorais), Elvis Pires diz que uma simples frase que ouve ou lê nas redes sociais pode virar uma canção. E para ele, não existe obra prima. Todas são grandes criações. "É engraçado que, desde as primeiras composições, tudo virou hit. E essas músicas nascem sempre de forma natural. Elas surgem de uma frase que alguém fala e eu escuto. Alguém discute ou posta uma indireta no Facebook, dali eu sempre tiro uma história. Porque, às vezes só como uma frase, a gente sabe tudo o que passou", afirma ele.
Bastante reservado, a humildade e a timidez do músico também reflete em seu posicionamento sobre a fama, onde confessa preferir mais os bastidores: "Eu gosto mais de ser compositor, criar as músicas. O lado artista, da fama, não sou muito chegado. Porque a fama lhe priva de muita coisa, e eu nunca quis ser famoso. Também não preciso ser famoso para fazer música ou ser reconhecido como tal. Muita gente passa por mim ou eu vejo falando de Elvis Pires na minha frente e nem sabem que sou eu, mas eu não ligo, fico tranquilo".
E assim, ele segue fazendo história na cena brega, reconhecendo os desafios do gênero: “Para mim, o brega sempre está em ascensão. Mas acho que falta um pouco de incentivo porque lutamos sozinhos. Temos muito apoio da imprensa local, mas do Estado em si e fora dele, não temos apoio nenhum, e isso é uma grande dificuldade. Mesmo assim, tenho certeza que o brega de Recife tem capacidade para ganhar o Brasil inteiro. E quero muito fazer isso”, finaliza.