Depois de cinco anos, quando incendiou plateias febris com a turnê do disco Chico, o mais notório filho do sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda já tem datas definidas para voltar a pisar num palco do Recife. Durante quatro noites seguidas, de 3 a 6 de maio, Chico Buarque apresenta o show derivado do disco Caravanas no Teatro Guararapes, em Olinda. Mas a apresentação do gênio da música popular brasileira chega embalada por questionamentos em torno dos preços: o ingresso inteiro para plateia custa R$ 490. Para o balcão do teatro, o preço é R$ 250. Ambos possuem meias-entradas para estudantes e categorias previstas em lei. Equivalente a pouco menos que a metade de um salário mínimo, o ingresso é o mais alto entre os shows recentes de grandes nomes da MPB.
Tão logo foi anunciado, o show começou a receber críticas e comentários nas redes sociais. Alguns ironizam o posicionamento político do artista, constantemente atacado por sua postura contra o governo de Michel Temer, acusado de ilegítimo e golpilsta. “Que artista de esquerda é esse, que não faz shows populares, para o povo ter de fato acesso à sua música?”, escreveu um fã na página oficial do artista. “Deveria fazer alguns shows em locais em que pudesse ter preço mais popular. Provavelmente é a última turnê do Chico e muita gente que gostaria não vai poder assistir”, postou outro. “No Carnaval, muita gente pagou a mesma coisa para assistir a um monte de porcaria nos camarotes privados. Deve ser mesmo a última turnê de Chico, por isso mesmo, vale o preço”, defendeu um terceiro.
Se a lei da oferta e da procura regular de fato o mercado dos grandes shows do Recife, o preço do show tem suas justificativas. Enquanto nomes como Caetano Veloso e Maria Bethânia costumam fazer pelo menos um show por ano, Chico enfrenta grandes hiatos de palco e de disco. A última vez que pegou a estrada, como dito, foi há cinco anos. É possível também que essa seja a última grande turnê de Chico: o artista volta aos palcos aos 73 anos.
CARAVANAS
Este show é inspirado no recente álbum Caravanas. O show segue a tônica de Chico nos palcos. Apoiado pela banda, em pé, violão ao colo, movimentos mínimos, o cantor intercalava as novas composições com sucessos de sua trajetória. Dos anos 1990 até hoje, são, no repertório, 19 canções. O show tem duração de uma hora e meia. Canções como Mambembe, Palavra de mulher, A história de Lilly Brawn, Todo sentimento e A bela e a fera fazem parte do repertório. Parcerias com Tom Jobim como “Retrato em branco e preto” e “Sabiá”, há anos fora dos palcos, também fazem parte do espetáculo.
“Os ingressos tiveram preços estabelecidos de forma igual para todas as praças. Uma grande turnê têm vários custos agregados”, diz o produtor Carlos Dias, da empresa cearense Super Multi, responsável pela produção local. “Os valores são estabelecidos pela própria produção do artista. Quando de sua última passagem pelo Recife, o show de Chico teve ingressos máximos fixados em R$ 350.
Com exceção do baterista Jurim Moreira, escalado para substituir o lendário Wilson das Neves, morto este ano e homenageado especial do show, a banda é composta pelo maestro Luiz Claudio Ramos (violão, guitarra e arranjos), João Rebouças (piano), Bia Paes Leme (teclado e vocal), Chico Batera (percussão), Jorge Helder (baixo) e Marcelo Bernardes (flauta e sopros). A mesma banda que acompanha Chico Buarque de Hollanda há décadas.