MÚSICA

Livro de pernambucano analisa o feminino nas letras de Chico Buarque

Com prefácio de Hildegard Angel, livro de Alberto Lima é lançado nesta quarta no Recife

Valentine Herold
Cadastrado por
Valentine Herold
Publicado em 27/09/2017 às 11:25
Foto: Felipe Ribeiro/ JC Imagem
Com prefácio de Hildegard Angel, livro de Alberto Lima é lançado nesta quarta no Recife - FOTO: Foto: Felipe Ribeiro/ JC Imagem
Leitura:

Uma simples busca no Google sobre Chico Buarque revela 570 mil resultados. Ao procurar “Chico Buarque e mulheres”, o número de respostas é menor, mas não de forma tão drástica, são 441 mil. Não era de se espantar: a relação entre o cantor e compositor brasileiro e a figura feminina sempre foi muito comentada - muitas vezes de maneira elogiosa e admirada, e outras problematizando a representação da mulher nas letras de Francisco Buarque de Hollanda.

De um jeito ou de outro, é impossível não pensar em Chico como o músico brasileiro que inseriu como ninguém o eu lírico feminino em suas letras. É justamente esta ousadia e característica tão própria do cantor que Alberto Lima analisa em seu novo livro, Quem é Essa Mulher? A Alteridade do Feminino na Obra Musical de Chico Buarque, lançado nesta quarta (27), às 19h, na Mercearia do Braz, pela Cepe.

O livro é resultado da tese de mestrado que Alberto concluiu na Universidade Paris III - Sorbonne Nouvelle, na França, durante o período em que esteve representando o País na Embaixada do Brasil. Atualmente, o pernambucano formado em Jornalismo e Direito vive em Brasília, onde trabalha no Senado. Poderia parecer fora de seu contexto de formação acadêmica e trajetória profissional se debruçar sobre um dos maiores compositores da Música Popular Brasileira, mas o gosto pelas canções de Chico Buarque são bem anteriores às escolhas de vida de Alberto.

"Queria estudar um tema do qual eu gostasse no mestrado e foi então que resolvi estudar literatura e Chico Buarque, um compositor brasileiro do qual eu sou fã", explica, ao ressaltar ainda que letras de canções também são poesia e, portanto, integram o universo literário.

O LIVRO

Poderia parecer distante da vivência feminina um autor escrever sobre a visão de outro homem da figura da mulher. Mas é muito visível logo no início do livro o cuidado do escritor em determinar seu lugar de fala e sua minuciosa pesquisa da trajetória feminina de luta contra o machismo e a misoginia. O prefácio, inclusive, foi escrito por Hildegard Angel, filha de Zuzu Angel - para quem, inclusive, Chico dedicou duas canções. "Conhecer as mulheres de Chico através do olhar analítico de Alberto é redescobrí-las (...) Ler esse livro é sair dele certa de que separar o artista da obra é uma tremenda tolice", escreveu Hildegard.

Antes de partir para a análise propriamente dita das músicas, o autor traça dois panoramas históricos: o das mudanças do lugar social e político da mulher no mundo Ocidental, citando Olympe de Gouges e, claro, Simone de Beauvoir, entre outras figuras de destaque. Em seguida, Alberto se debruça sobre a história da mulher no Brasil.

"A gente ainda romantiza muito nossa história, é dada pouca atenção ao fato que o Brasil começou sua sociedade a partir de estupros das mulheres indígenas e negras", explica o autor. Essa contextualização da vida da mulher ao longo dos anos é contada de maneira literária, sem excessos históricos ou acadêmicos, fazendo a leitura fluir.

"Na vida real, longe dos ditames dos códigos, o século seguiu os moldes dos anteriores em que as mulheres continuaram oprimidas e discriminadas, sem acesso à educação e ao direito a uma vida social ativa (...) Nos anos 1950, a classe média ascenderia socialmente, mas, no plano cultural, o destino natural das mulheres mesmo dessa camada continuava o de ser mãe, esposa e dona de casa", escreve no capítulo Chico Buarque de Holanda e a Revalorização da Mulher na Música Popular Brasileira.

Da definição do porquê da importância da temática, segue-se a segunda parte da obra. E, mais uma vez, ela é dividida: primeiro Alberto analisa as músicas em que o eu lírico masculino fala da mulher para depois a voz feminina ser o objeto de estudo. Canções como Samba e Amor, Morena dos Olhos d’ Águas, Você Vai Me Seguir, Geni e o Zepelim e Trocando em Miúdos fazem parte das que integram o rol das músicas com eu lírico masculino.

Com Açúcar, Com Afeto, Imagina Só, A História de Lily Braun, Olhos nos Olhos ou ainda Tatuagem são exemplos de músicas que apresentam um eu lírico feminino. No total, foram analisadas 190 das 300 músicas compostas por Chico Buarque.

POLÊMICA

Recentemente, Chico Buarque se viu no cerne de uma polêmica. No final do mês de julho ele lançou uma nova canção, intitulada Tua Cantiga e os versos “quando teu coração suplicar/ ou quando teu capricho exigir/ largo mulher e filhos/ e de joelhos/ vou te seguir” foram alvos de críticas.

Muitas mulheres se colocaram contra essa visão amorosa de que é romântico um marido deixar sua esposa e seus filhos por outra pessoa. Para Alberto, as crítica são válidas, mas ele acredita que essa letra parte justamente de um eu lírico masculino. “Quem diz é ele que vai fazer, o sujeito parece até meio alucinado, transtornado, parece que ele criou esse cenário.”

O escritor foi entrevistado no Ponto de Encontro, na TV JC desta terça (26). A entrevista pode ser assistida na íntegra:

Últimas notícias