Entrevista

Djonga fala sobre rap de direita, punk rock e autocrítica

Chegando ao Recife para o Coquetel Molotov, o rapper mineiro Djonga promete show com 'interação, bate-cabeça e loucura'; confira entrevista

Rostand Tiago
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Rostand Tiago
Publicado em 16/11/2018 às 8:52
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Chegando ao Recife para o Coquetel Molotov, o rapper mineiro Djonga promete show com 'interação, bate-cabeça e loucura'; confira entrevista - FOTO: Foto: Divulgação
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A periferia de Belo Horizonte envia ao Coquetel Molotov, que ocorre amanhã, no Caxangá Golf & Country Club uma de suas maiores pérolas musicais dos últimos anos. Jovem, assim como é relativamente sua carreira, Djonga, alcunha adotada por Gustavo Pereira, 24, já é dono de um prestígio bem cimentado dentro do rap nacional. O rapper conquistou ouvidos sendo lírico, mas sem poupar uma agressividade justa. Canta as mazelas do povo negro, do país, de sua casa e de sua cabeça, mas também faz juras de um mundo melhor para seu filho e exalta suas conquistas.

Conviver com artistas de sons tão distintos nos bastidores do Coquetel Molotov deve passar longe de ser um isolamento para Djonga, com todo o ecletismo que diz ter. Ao falar das suas principais influências sonoras, entrega logo o funk e o punk rock como principais ritmos em sua formação artística. "Funk é um grande lance na minha vida, talvez meu primeiro amor musical, minha maior influência. Junto a ele, vem o punk e o rock'n'roll, que me mostrou não haver muito essa coisa de preconceito musical. O cara ouve funk, rock, MPB e é o mesmo cara, apesar de ainda achar a galera do rock meio fechada.", revela. Toda sonoridade agrega.

Quer dizer, quase toda sonoridade agrega para o rapper. Recentemente, Djonga falou em seu Twitter sobre a existência de um rap feito ideologicamente à direita. "Claro que existe, claro que pode… só vai ser uma bosta", afirmou. O mineiro agora falou mais um pouco sobre essas produções, ressaltando sua incapacidade de se comunicar com o povo. "Uma pessoa de direita pode fazer música e ela sair boa. Porém, se a música for abordando esses temas políticos da perspectiva da direita, com certeza vai estar uma bosta", afirma.

Para ele, a maioria da população que está em um discurso e atitude de direita, estão passando por uma espécie de desespero e falta de compreensão do processo político. "É bem fraco tecnicamente também. Em vez de ficar passando vergonha nessa idade, melhor estudar para passar na faculdade", aconselha.

Disco novo, vida nova

Djonga agora traz para o Recife o álbum O Menino que Queria Ser Deus, lançado neste ano. Ele vem um contexto totalmente distinto do momento que estava quando gravou seu primeiro disco, Heresia, lançado há um ano. Mesmo que ainda more no mesmo bairro e continue a “dar os mesmos rolês e nunca ter deixado tomar uma cerveja com a família”, pode se dizer que as coisas estão um pouco mais confortáveis financeiramente. O “Batendo milhões no YouTube/ E ainda assim batendo carteiras no centro” foi trocado pelo "Revista para mim era polícia/ Até eu ganhar a votação da Rolling Stones/ Meta é ficar mais famoso que Beatles/ Sem compor Sgt. Pepper’s Lonely."

"O Heresia surge da necessidade, pra colocar tanta coisa que estava dentro de mim e eu precisava colocar urgentemente pra fora. Jorge, meu filho, não tinha nascido ainda, a Yasmin, mãe dele estava grávida e eu estava passando dificuldade financeira. Ele deu uma projeção para mim, fiz show o ano inteiro, todo final de semana e conheci muita gente e pude entender melhor como fazer música. No Menino que Queria Ser Deus, eu já entro com todas essas influências artísticas e musicais. O Jorge já estava na terra, estava mais tranquilo financeiramente e pude pesquisar mais referências. É um Djonga que explora mais a musicalidade e se comunica de uma maneira mais simples com as pessoas", relata.

Dentro desse processo de amadurecimento, Djonga também relata um processo de autocrítica em relação à abordagem à figura da mulher, assim como do pobre e do negro, além de outras minorias. "Às vezes, as figuras de linguagem que a gente usa para explorar personagens são muito forte, é o momento que você pensa e fala: ‘por que isso faz sentido e por que isso não faz sentido?’ Essa é a forma que eu trato todas as questões", explica. Ele ainda pontua que o maior número de "minas no rap" deve ser comemorado, mas nem tanto, pois ainda não ocupam o mesmo espaço.

Para o show, marcado para às 22h50 no Palco Coquetel Molotov, ele promete energia e muita “interação, bate-cabeça e loucura” para o público, um momento de "libertação espiritual e artística". Questionado sobre o futuro, podendo falar sobre se deseja trabalhar em novas músicas, discos e outros projetos musicais, ele não cita nada disso. Qual o próximo projeto de Djonga? "Comprar um estacionamento", brinca o mineiro.

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