madrinha do samba

Sambista Beth Carvalho morre aos 72 anos

A cantora estava internada no Rio de Janeiro desde o início do ano

JC Online e Estadão Conteúdo
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Publicado em 30/04/2019 às 18:28
Foto: Facebook/Beth Carvalho
A cantora estava internada no Rio de Janeiro desde o início do ano - FOTO: Foto: Facebook/Beth Carvalho
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Beth Carvalho morreu aos 72 anos, nesta terça-feira (30), no Rio de Janeiro. A sambista estava internada desde 8 de janeiro no Hospital Pró-Cardíaco, em Botafogo, e foi vítima de uma infecção generalizada. Comunicado oficial diz que a cantora "partiu às 17h33, cercada do amor de seus familiares e amigos".

Leia o comunicado oficial:

Queridos amigos e fãs,
Nossa querida Beth Carvalho partiu hoje às 17h33, cercada do amor de seus familiares e amigos. Agradecemos todas as manifestações de carinho e solidariedade nesse momento. Beth deixa um legado inestimável para a música popular brasileira e sempre será lembrada por sua luta pela cultura e pelo povo brasileiro. Seu talento nos presenteou com a revelação de inúmeros compositores e artistas que estão aí na estrada do sucesso. Começando com o sucesso arrebatador de “Andança”, até chegar a Marte com “Coisinha do Pai”, Beth traçou uma trajetória vitoriosa laureada por vários prêmios, inclusive um Grammy pelo conjunto da obra. Assim que possível, informaremos sobre o sepultamento.

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Queridos amigos e fãs, Nossa querida Beth Carvalho partiu hoje as 17:33, cercada do amor de seus familiares e amigos. Agradecemos todas as manifestações de carinho e solidariedade nesse momento. Beth deixa um legado inestimável para a música popular brasileira e sempre será lembrada por sua luta pela cultura e pelo povo brasileiro. Seu talento nos presenteou com a revelação de inúmeros compositores e artistas que estão aí na estrada do sucesso. Começando com o sucesso arrebatador de “Andança”, até chegar a Marte com “Coisinha do Pai”, Beth traçou uma trajetória vitoriosa laureada por vários prêmios, inclusive um Grammy pelo conjunto da obra. Assim que possível, informaremos sobre o sepultamento.

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A 'madrinha do samba'

A sambista nasceu Elizabeth Santos Leal de Carvalho, no Rio, em 1946. A paixão pela música, ela herdou da família. Sua avó tocava bandolim e violão. Desde criança, ouvia Sílvio Caldas, Elizeth Cardoso e Aracy de Almeida, que eram grandes amigos de seu pai e que ele recebia em sua casa. E ali Beth ouvia, atenta, aos convidados do pai - e à cantoria.

Na adolescência, cantava bossa nova e outros ritmos em festas e, para ajudar a família, após o pai ser perseguido na ditadura por seus pensamentos de esquerda, ela passou a dar aulas de violão. Não por acaso, herdou do pai a postura engajada por toda a vida.

Gravou o primeiro compacto em 1965, com a canção 'Por Quem Morreu de Amor', de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli. Nos anos seguintes, seguiu a trilha dos festivais.

Seu primeiro sucesso foi Andança, de Edmundo Souto, Paulinho Tapajós e Danilo Caymmi, que ela defendeu no Festival Internacional da Canção, em 1968, e com o qual conseguiu o 3º lugar. A música também deu título ao seu primeiro LP, que foi lançado em 1969. Emendou outros sucessos na sua voz, como o hino 'Vou Festejar', e eternizou 'Coisinha do Pai'.

Na década de 1970, foi ao encontro dos mestres, ao gravar 'Folhas Secas', com Nelson Cavaquinho, e 'As Rosas Não Falam', de Cartola. Dois momentos sublimes em sua carreira.

Ficou conhecida também sua presença assídua na quadra Cacique de Ramos, onde Beth identificava talentos no samba e os revelava, como aconteceu com nomes como Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Sombra, Sombrinha, Arlindo Cruz, Jorge Aragão, entre tantos outros. Daí a alcunha de 'madrinha do samba'. "Quem levou Beth Carvalho pro Cacique foi o Alcir Portela, que era jogador naquela época. Ela se apaixonou pelo samba tocado embaixo da Tamarineira. Gostou tanto que resolveu gravar com a gente em estúdio, no formato da nossa roda de samba", contou, em seu site, o cantor, compositor e percussionista Bira Presidente, integrante do Fundo de Quintal.

Beth Carvalho não renegava o posto de madrinha, da grande matriarca, mas preferia não ter essa função. Gostaria que os talentos tivessem outros tipos de incentivo e oportunidades para se expor. "Não é meu papel, mas sou assim, gosto de mostrar o que há de bom", disse, certa vez, em entrevista ao Estado.

Mangueirense de coração, foi homenageada por outras escolas de samba: foi tema de enredo da Escola de Samba Unidos do Cabuçú, 'Beth Carvalho, a enamorada do samba', em 1984, e recebeu da Velha Guarda da Portela uma placa comemorativa por ela ter sido a cantora que mais gravou seus compositores.

Em 2009, no Grammy Latino, ganhou o prêmio Lifetime Achievement Awards, em celebração à sua carreira. No mesmo ano, precisou fazer uma pausa por causa de uma fissura na região sacra, que a obrigou a ficar em repouso total. Voltou aos palcos no dia 19 de fevereiro de 2011, no show de encerramento do evento Sesc Rio Noites Cariocas. Poucos meses depois, em abril, a cantora se apresentou em São Paulo e, na ocasião, disse ao Estado que havia se surpreendido consigo mesma após passar 1 ano e meio convalescendo em cima de uma cama. "Tive paciência de Jó. Contei com o apoio dos amigos e da família. Toda hora tinha pagode em casa", contou ela, à época.

Apesar de a cantora se manter na estrada, suas condições físicas foram piorando. Em 2018, fez apresentações deitada. Por causa das dores, não conseguia ficar sentada. E emocionou as plateias. No final do ano passado, foi morar com a filha, a cantora e compositora Luana Carvalho, fruto de seu relacionamento com o jogador Édson de Souza Barbosa, mais conhecido como Édson Cegonha.

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Ao jornal O Estado de S. Paulo, na época do lançamento de seu trabalho de estreia, o disco duplo 'Sul' e 'Branco', em 2017, Luana não negou que seu maior desafio talvez estivesse relacionado ao fato de ser filha de Beth Carvalho. Ter como mãe uma grande intérprete como ela lhe deu menos direito ao anonimato, tampouco licença para se lançar crua na carreira musical. "Para eu aparecer com as minhas canções, sendo filha de uma pessoa que já tem um trabalho muito conhecido, talvez o mais delicado seja o quanto você precisa chegar com um senso estético já muito bem apurado, com uma proposta um pouco mais concreta, mas afinal são muitas vantagens também", disse Luana.

Repercussão nas redes sociais

Nas redes sociais, artistas e fãs lamentaram a morte da 'madrinha do samba'. Confira aqui.

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