Trap

Kerda L.A. explora nostalgia à brasileira

O produtor e beatmaker é uma das atrações do RDV Festival que acontece neste sábado (04), às 18h, no Baile Perfumado.

João Rêgo
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João Rêgo
Publicado em 04/05/2019 às 15:54
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O produtor e beatmaker é uma das atrações do RDV Festival que acontece neste sábado (04), às 18h, no Baile Perfumado. - FOTO: Divulgação
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Obrigatoriamente Necessito Ser Mais Original, o título da beat tape do pernambucano Kerda L.A. explica bem o seu trabalho com sonoridades. Produtor e beatmaker, Andreson, e não "Anderson" como faz questão de ressaltar, é um dos bons nomes por trás - e pela frente-, das músicas da cena do rap local. O artista se apresenta hoje como DJ da noite no RDV Festival que acontece no Baile Perfumado, às 18h. 

Foi através do break, em 2009, que Andreson começou a descobrir a cultura do hip-hop. Da dança, foi para a rima mas, conta, ele "escrever rap não era muito minha praia". O pouco jeito para composição lírica foi compensado por um ouvido apurado. Das letras, foi para a produção sonora das músicas. "A ideia era ocupar o espaço que aqui estava vazio. A cada dez amigos meus, seis eram MCs, dois grafiteiros, dois b-boys, e nenhum produtor".

Assim nasceu Kerda L.A., assinatura que pode ser encontrada facilmente no Youtube ao lado de rappers como Pinguin, Flip R1 e Don Erre, com quem o artista já produziu diversas músicas. Em todas, a marca autoral: beats lofi, geralmente boom bap, com samples de canções de artistas do jazz e do blues como Chet Baker e John Coltrane. Algo marcante em projetos dos seus ídolos na produção: Madlib e Nujabes.

Mas Kerda não para na referência. Seu trabalho é expansão. O maior exemplo disso é o projeto citado no começo do texto, O.N.S.M.O, em abreviação. A beat tape é dividida em três volumes, onde o produtor mergulha na onda nostálgica do lofi hip-hop - que vem dominando a internet recentemente. 

Todos os três projetos encarnam o legado das suas já citadas influências: samples em loop que evocam certa nostalgia, o popular Chillhop. Mas Kerda vai além. O artista concebeu em todas as tapes uma dimensão sonora aberta a brasilidades que aprofundam a cultura do hip-hop em outras dimensões artísticas. É assim que ele adiciona a suas produções, logo na primeira faixa de um dos volumes, o áudio de uma entrevista do Adoniran Barbosa sobre meteorologia. Parecia Domingo, logo em seguida, faz o mesmo usando o poema Coração de Poeta, de Paulo Leminski, sendo recitado em loop junto aos beats. Janela de Ônibus, do pernambucano Miró, é outro que aparece nas composições. 

As inferências sonoras continuam ao longo de todas as tapes. Áudios de reportagens televisivas, entrevistas e comerciais antigos, além de participações de outros rappers e textos sendo lidos pelo próprio Kerda vão criando uma espécie de mergulho nostálgico em um universo iconográfico, propriamente, brasileiro.

"No gênero, se você perceber eles sempre usam as referências regionais das sonoridades próprias da cultura deles. Eu queria que quem ouvisse sentisse isso com coisas que nos rodeia" explica. Até por isso Kerda vai no concreto das sensações. O foco não é samplear músicas nacionais como faz perfeitamente a Recayd Mob - que também se apresenta do RDV desta noite, por exemplo. É conceber uma atmosfera bem direcionada para uma dimensão sensorial de um passado, não tão distante, da juventude que consome os seus sons.

RDV Festival

A noite de hoje agitará os fãs do hip hop no Recife. O RDV Festival toma conta do palco do Baile Perfumado, a partir das 18h, com um line-up dominado por grandes nomes do trap nacional, como Recayd Mob, Raffa Moreira e Denov, contando ainda com atrações como Konai, A600Z, NL, Kerda L.A., DJ RDV, e fechando com o brega funk de Shevchenko & Elloco.

O festival, segundo Bruno Pimentel - um dos organizadores, é apenas uma parte do que realmente é o Rap de Vitrine, coletivo que organiza o evento. "Somos um movimento itinerante. Daqui vamos para João Pessoa, e depois para Portugal. Sempre com o objetivo de divulgar a cena local, e ampliar e trazer cultura para o cenário do rap" conta o músico que assina como Rubico seus trabalhos.

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