Entre beats, rimas, resistência e trap, a recente carreira artística da pernambucana Margot está em ascensão. Na noite de hoje, a artista sobe ao palco do Groovin Festival, ao lado de grandes nomes como Djonga e MV Bill.
Natural de Caetés I, Abreu e Lima, o envolvimento de Raiane Maria com o hip hop começou nas batalhas de MCs da cidade em 2018. Após superar problemas pessoais que a impediam de se envolver afundo, a artista entrou de vez no meio. Passou rapidamente de espectadora para uma das organizadoras. No processo, conheceu e participou do recital Boca no Trombone, de Água Fria, onde foi incentivada pelas mulheres da banca de rap Femigang a expandir seu trabalho. Foi durante a Batalha das Loucas, em Paulista, que esse impulso aconteceu – grande vencedora do evento, ganhou como premiação a produção da sua primeira música, a captação, um lyric video e o beat.
Com uma lírica afiada, Parem de Nos Matar, desde seu título, não escondia sua urgência de se expressar – em termos de vivência pessoal e de potência crítica universal. A letra gritada sobre um beat trap sombrio versava sobre o feminicídio, tanto em um entendimento cru da realidade, como um grito de reação necessária.
“Na letra eu falo da realidade que vivi e vivo em casa. Tenho um seio familiar um pouco tensionado. No momento que eu estava passando, alguns versos eu tive que escrever trancada dentro de casa escondida do meu irmão”, conta Margot. Sua segunda música, Conservador, segue o mesmo caminho, apontando contradições entre discursos políticos e práxis do cotidiano. "Na época da eleição, eu ouvia e enxergava coisas absurdas de pessoas hipócritas e senti a necessidade de colocar aquilo para fora".
Suas inclinações críticas contrastam com as tendências – ainda que críticas por outros caminhos –, do trap no geral. Margot, no entanto, reafirma que seu diálogo com o gênero, para além da musicalidade, é uma forma de ocupar espaços vazios. “Me considero trapper, e acho que a cena precisa muito de mim como trapper. Eu posso ser essa representatividade para muitas mulheres que curtem o gênero mas não tem ninguém no meio que compartilhe a mesma realidade que elas”.
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A valorização da estética, uma das marcas do trap, por exemplo, se mantém intacta. “Eu sonho em ser pop star, naipe cardi B. Unhas belas, roupas belas, maquiagem bela, boot belo, tranças belas, e todo aquele protagonismo” ressalta.
Seus projetos futuros também miram uma diversificação nesse aspecto. Planejando clipes e novas composições, a artista de 19 anos pensa em expandir sua lírica por novos caminhos. “Também penso em falar sobre amor e outros assuntos. Mas esse lado crítico sempre vai ter. Abordar, por exemplo, a solidão da mulher preta, se falar sobre a ostentação, ressaltar a estatística da minha presença a partir disso”.
SHOW
Margot será uma das primeiras atrações a subir no palco do festival. A escala em um horário não muito privilegiado em termos de público a desagradou. “A oportunidade do público daqui de conhecer artistas locais são nesses eventos grandes. Mas se nos colocam em certo horários, isso já nos boicota. Gastamos muito para colocar um som na rua, mas se o público não nos chega a conhecer, como teremos um retorno?”.
A empolgação, contudo, não diminuiu. Para a apresentação, a artista preparou um repertório novo, com poesias, canções autorais, e seu costumeiro tom crítico mesclando com a pegada dançante e agressiva do trap. "Antes das músicas, eu vou introduzir com poesias; uma sobre a violência doméstica e outra sobre relacionamentos abusivos, que é justamente onde falo dessa importância da independência da mulher, principalmente para conseguir se livrar desses males que a seguram", conta a trapper, que faz parte hoje da conhecida banca 9k.