jornalismo

Geneton Moraes Neto e o Ciclo do Super 8

Jornalista pernambucano morreu aos 60 anos no Rio de Janeiro

Marcelo Pereira
Cadastrado por
Marcelo Pereira
Publicado em 22/08/2016 às 19:37
Foto: Facebook/Reprodução
Jornalista pernambucano morreu aos 60 anos no Rio de Janeiro - FOTO: Foto: Facebook/Reprodução
Leitura:

Foi de repente. O sonho de fazer um filme com poucos recursos voltou a ser realidade na capital pernambucana meio século depois do surgimento do pioneiro Ciclo do Recife da década de 1920, na era do cinema mudo. A popularização da bitola Super 8 com banda sonora, em 1973, tornou-se uma febre em celuloide que contaminou toda uma geração, durante uma década, com produções que realizou um cinema alternativo, experimental e marginal.

Leia mais sobre Geneton Moraes Neto

>>> Jornalista Geneton Moraes Neto morre aos 60 anos no Rio de Janeiro

>>> Último texto em seu site fala sobre a possível queda de Dilma

>>> Geneton entrevistou de Arraes ao assassino de Luther King

>>> Último grande trabalho foi o documentário Boa Noite, Solidão

 

Um dos maiores entusiastas foi o jornalista pernambucano Geneton Moraes Neto, que morreu nesta segunda-feira (22), no Rio de Janeiro. "Arranje uma câmara, reúna a turma, vá para a rua. A transa é filmar" - escreveu à época o jovem jornalista, para quem "os fatos mais aparentemente comuns" poderiam "ser transformados em filme". Seu verbo ecoava no poeta maldito piauiense Torquato Neto, que em sua Geleia Geral godardiana provocava: "Invente. Uma câmara na mão. O Brasil no olho. Documente isso amizade".

Há quem fale em 150, outros contabilizam 200 filmes realizados desde as primeiras experiências dos irmãos Ulysses e Frederico Pernambucano de Mello sobre o cangaço, os filmes de Kátia Mesel sobre suas andanças pelo norte África e da Europa, com os cantores e compositores Lula Côrtes e Flaviola, à crítica à televisão e o filme turístico sobre Fernando de Noronha pelos militares Athos Eichler e Osman Godoy, o registro documental da Missa do Vaqueiro feita por Hugo Caldas, e a adaptação ficcional do conto A continuidade dos parques, de Cortázar, em Labirinto, por Fernando Spencer.

Três dos maiores entusiastas e divulgadores do Super 8 em Pernambuco foram também realizadores: os jornalistas Geneton Moraes Neto, Fernando Spencer e Celso Marconi, que utilizavam as páginas dos jornais diários do Recife onde trabalhavam para divulgar e comentar os filmes, jornadas e festivais e abrir discussões sobre a movimentação superoitista recifense. A eles se juntam três dos principais cineastas autorais do ciclo: Jomard Muniz de Britto, Amin Stepple e Paulo Bruscky.

Geneton Moraes Neto no início pregava o "faça você mesmo" como política para o superoitista, não se importando muito com a qualidade final do filme realizado. Com o tempo, ele passou a se preocupar mais estética e formalmente com seus filmes que iam desde o panfleto em favor do futebol Esses 11 Aí (em parceria com Paulo Cunha), numa época em que a esquerda o considerava como ópio do povo, ao filme-poema A Flor do Lácio é Vadia, sobre o colonialismo cultural, declamado por Jomard Muniz de Britto diante das ruínas do Forte Orange, em Itamaracá. E Funeral de uma Década em Brancas Nuvens, no qual compara a repressão militar e o vazio cultural da década de 1970 com a efervescência dos anos 1960.

Últimas notícias