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Rio 2016: Batuque no Hino Nacional reafirma identidade afro-brasileira

Percussionista pernambucano Alexandre Garnizé explica o significado do toque durante cerimônia de encerramento

Marcelo Pereira
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Marcelo Pereira
Publicado em 22/08/2016 às 22:31
Foto: Reprodução TV
Percussionista pernambucano Alexandre Garnizé explica o significado do toque durante cerimônia de encerramento - FOTO: Foto: Reprodução TV
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Entre tantos momentos marcantes da festa de encerramento dos Jogos Olímpicos Rio 2016, a execução do Hino Nacional no Estádio do Maracanã, domingo à noite, merece uma medalha de ouro. Um coral formado 27  meninos e meninas do Coral Infantil da UFRJ, regido pela maestrina Maria José Chevitarese - cada uma representando uma unidade federativa do Brasil. O Hino Nacional foi executado ao som de atabaques, tendo entre os seus participantes o pernambucano Alexandre Garnizé, ex-integrante da banda Faces do Subúrbio e que atuou também no filme O Rap do Pequeno Príncipe contra as Almas Sebosas, de Paulo Caldas e Marcelo Luna.

Atualmente morando no Rio de Janeiro, integrando a Abaomy Afrobeat Orquestra e em turnê com B Negão, Alexandre Garnizé explicou o significado da partipação dos batuqueiros na cerimônia, ignorada por algumas das principais emissoras que transmitiam a cerimônia. De acordo com o percussionista, o convite foi feito pelos músicos Gabi Guedes e Alê Siqueira, para montar um combo de ogans, com músicos do Rio para tocar um vassy (um toque específico para Ogun) num arranjo para o Hino Nacional. Foi um momento dos mais significantes dentro das Olimpíadas, visto que as casas de matrizes africanas e indígenas tinham sido excluídas do encontro ecumênico", comenta Garnizé.

Acho que ocupamos nosso lugar de direito e que nos é negado; e que muitos ainda falam mal, criticam ... Mas esquecem que nós somos berço da cultura nacional, Alexandre Garnizé

 

Para o músico, foi um momento de afirmação da identidade afro-indígena brasileira. "Consegui furar o bloqueio, estando 15 anos fora. Não sou ufanista... Longe de mim ! Mas eu enquanto nordestino, pernambucano, camaragibense, me senti muito mais afro-brasileiro. Acho que ocupamos nosso lugar de direito e que nos é negado; e que muitos ainda falam mal, criticam ... Mas esquecem que nós somos berço da cultura nacional", afirmou "Desculpe os outros Estados, nós ontem simplesmente falamos para mundo!"

 

 

"QUEREMOS RESPEITO"

Para Alexandre Garnizé, passado o momento das Olimpíadas do Rio, chegou o momento de continuar a luta de afirmação. "Vamos pra guerra!  Mas guerra por melhor qualidade de vida, melhores escolas ,transporte público de qualidade, mais hospitais... Nós do povo de terreiro não queremos que nos tolere, queremos que nos respeitem. Ninguém e nem um governo pode calar nossos tambores e negar nossa história de luta por um país mais justo igualitário. Resistir é preciso".

Garnizé está em tour com BNegão, com quem gravou o CD Transmutacão  e com a Abayomy,  com o CD Abra sua Cabeça,  produzido pel conterrâneo Pupillo (Nação Zumbi). O percussionista  comanda há cinco anos um grupo de maracatu chamado Tambores de Olokun, que tem cerca de 160 componentes  e está entrando em estúdio agora pra registrar as conposições autorais. "O disco vai ter participação de André Abujamra e Adiel luna. Fiz convite a Isaar e Alessandra Leão", conta.

 

Outro projeto com o qual está envolvido é o documentário África no Horizonte: Etnicidade , Música e Juventude no Senegal. "É um encontro musical na busca das minhas raízes com o músico, amigo e mestre Doudou Ndaiye Rose, que faleceu ano passado, e tem participações de do músico senegalês Pape Ngalla, de Gilberto Gil  e da antropóloga Regina Novaes". Além disso, ele realiza workshops e palestras. "Agora estou  indo para Austrália e Canadá dessiminar cultura afro-pernambucana", comemora.


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