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Gal Costa: 'A música me salvou neste mundo louco'

Cantora lança CD e DVD de 'A Pele do Futuro' e fala sobre obra e política

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 30/09/2019 às 15:59
Marcos Hermes/Divulgação
Cantora lança CD e DVD de 'A Pele do Futuro' e fala sobre obra e política - FOTO: Marcos Hermes/Divulgação
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Gal Costa afirma que seu ímpeto produtivo se mantém aceso pela paixão que nutre pela arte. “Música me faz muito bem; faz bem à minha saúde física e emocional. Eu sou que nem passarinho: não posso parar de cantar, senão fico triste”, contou em entrevistas por telefone ao JC. Aos 74 anos, completados na última quinta-feira, ela continua circulando pelo Brasil (ano que vem segue para a Europa) com o show de A Pele do Futuro, que recentemente foi lançado em CD e DVD.

Assim como o disco que dá nome à turnê, A Pele do Futuro – Ao Vivo, é mais um resultado da parceria de Gal com Marcus Preto. No show, o produtor assume também a direção artística, enquanto a produção musical é assinada por Pupillo. O repertório, como a cantora ressalta, é eclético e promove uma ponte entra a Gal de hoje – com canções como Cuidando de Longe, de Marília Mendonça, Palavras no Corpo, de Silva e Omar Salomão; e Sublime, de Dani Black – e a de ontem.

“O show tem algumas do disco e também músicas do repertório, que foram sucesso do passado e fazem parte da minha história e da história da música popular brasileira. Então, é muito prazeroso trazer para uma galera (mais jovem) as minhas músicas – que eu digo que são minhas porque me apoderei delas, mas foram escritas por outros compositores”, explica.

Entre esses clássicos estão Festa do Interior (Moraes Moreira), Balancê (Alberto Ribeiro/ João de Barro), Dê um Rolê (Moraes Moreira/ Galvão), London, London (Caetano Veloso), Vaca Profana (Caetano Veloso), Sua Estupidez (Roberto Carlos/ Erasmo Carlos), Azul (Djavan) e Que Pena (Jorge Ben). Há também canções como As Curvas da Estrada de Santos (Roberto Carlos/ Erasmo Carlos), O que É que Há (Fábio Jr.) e Motor (Teago Oliveira), que ganham os primeiros registros na voz de Gal.

Para ela, discos ao vivo não são novidade: em 1971, lançou Fa-Tal, Gal a Todo Vapor, um de seus trabalhos mais emblemáticos; já participou do Acústico MTV (1997), e registrou o show em que canta Tom Jobim (2006). Desde Recanto (2013), tem lançado CD e DVD de seus shows, resultando ainda em Estratosférica (2017) e neste A Pele do Futuro. Gal diz apreciar perceber as mudanças que a canção adquire ao vivo e as potências que pode atingir.

“A versão no palco sempre tem uma carga de emoção maior. Tem esse diferencial do momento. Chuva de Prata, por exemplo, só tenho uma gravação, essa (do novo show) é a segunda. Então, tem a diferença do tempo, o que eu era no passado e o que sou hoje”, reflete.

NOVOS TALENTOS

A aproximação de Gal com artistas contemporâneos e de diferentes gêneros musicais tem forte influência de Marcus Preto. A artista conta que o produtor sempre lhe apresenta novas composições e a troca entre eles é frutífera.

“Ultimamente, os trabalhos que tenho feito vêm todos através do Marcus Preto, que vai garimpar, e me mostra e aí eu fico com aqueles que me tocaram, que eu gosto. Algumas (músicas) eu nem gosto de cara, ele me diz para ouvir de novo, e acabo gostando. No passado, eu ia pessoalmente, pedia música àqueles compositores que eu geralmente gravava, e eles me gravavam uma fita k7. Para Gil (Viagem Passageira), Djavan (Dentro da Lei) e Guilherme Arantes (Puro Sangue), pedi pessoalmente”, conta.

A MÚSICA SALVA

Durante a ditadura civil-militar instaurada no Brasil em 1964, Gal Costa produziu alguns de seus trabalhos mais incisivos e criativos, transformando-se em uma das principais vozes contra a violência e pressão do período. Para ela, o Brasil de 2019, sob o governo Bolsonaro, apresenta características perigosas e, por isso, estar no palco, levar a beleza ao mundo e se posicionar é essencial.

“A música me salvou neste mundo louco. A música salva as pessoas”, enfatizou. “Quando digo que minha música é espiritual, é porque ela vai na alma das pessoas, é a forma de arte que mais atinge as pessoas de forma mais radical. É preciso levar luz para as pessoas, ao que está obscuro, que é como está, não só o Brasil, mas o mundo hoje. As pessoas estão intolerantes, violentas. Com a censura se pronunciando, que é uma coisa péssima, com o perfil ditatorial do novo governo, que é ruim, (minha música) é a tentativa de trazer um pouco de respiro”, enfatiza.

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