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Turbante levanta polêmica e discórdia nas redes sociais

Durante esta semana, o uso desta desta peça dividiu opiniões; Entenda o que gera o debate

Robson Gomes
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Robson Gomes
Publicado em 18/02/2017 às 5:00 | Atualizado em 28/12/2022 às 18:04
Foto: Facebook/Thauane Cordeiro/Reprodução
Durante esta semana, o uso desta desta peça dividiu opiniões; Entenda o que gera o debate - FOTO: Foto: Facebook/Thauane Cordeiro/Reprodução

No dia 4 de fevereiro de 2017, o uso do turbante por uma moça de cor branca despertou uma longa discussão nas redes sociais. Entre opiniões, textões, reações e compartilhamentos, veio à tona um termo que direcionou toda a discussão: apropriação cultural. O conceito não é novo. Afinal, a relação humana (muitas vezes, desumana) entre raças e culturas diversas circundam toda a história do Brasil.

E o que seria de fato apropriação cultural? “A partir do momento em que a classe dominante começa a utilizar a cultura de um determinado grupo social como se fosse pertencente a ela, isso é apropriação cultural. As pessoas esquecem que existia um contexto histórico por trás daquela arte ou daquele símbolo”, explica o professor, graduando em história pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), produtor cultural e ativista negro, Bruno Leon Martins.

O fato em questão se deu com a curitibana Thauane Cordeiro e foi relatado no Facebook. A jovem declarou em post que sofre de câncer (que na verdade é leucemia) e, por isso, costuma usar turbante – um dos símbolos da cultura afrodescendente. A moça revelou ter sido abordada, a caminho do metrô em São Paulo, por mulheres negras que desaprovaram o uso da peça. Tal afirmação provoca uma reflexão.

“Se você for analisar, quando os negros são vítimas de racismo, sempre há pessoas que perguntam: ‘Mas será que foi isso mesmo?’, ‘Será que podemos interpretar dessa forma?’, ‘Será que ele entendeu errado?’ Nós sempre somos julgados quando denunciamos uma forma de racismo”, questiona Bruno. “E eu te pergunto: será que o que a menina falou foi mesmo dessa forma? Será que a pessoa era do movimento negro? Será que essa polêmica foi gerada para deslegitimar a luta social dos representantes negros?”, completa o historiador.

Um dos vídeos que mais circularampelas redes esta semana sobre o assunto foi o Essa Tal Apropriação Cultural, do canal Muro Pequeno, no YouTube. Nele, o carioca Murilo Araújo apresenta a abordagem mais didática e esclarecedora. O vídeo, de abril do ano passado, com mais de 70 mil visualizações, explica que a apropriação cultural se configura na confirmação de dois critérios: o esvaziamento de um significado cultural e o envolvimento de um privilégio de raça, classe ou religiosidade.

“É por isso que a branca de turbante está na moda, é estilosa. E a preta de turbante é ‘macumbeira’. É por isso que o branco de dread é ‘de boa’, good vibes. Enquanto o preto de dread é sujo, nojento, fedido. O moço branco seguindo a moda hip-hop vai ser muito elogiado na balada da Zona Sul, mas um negro usando a mesma roupa vai ser abordado com truculência pela polícia ou seguido pelo segurança do shopping. Isso envolve certas relações de privilégio, e uma análise da apropriação cultural precisa levar isso em conta”, diz Murilo no vídeo.

A chef Carmen Virgínia é iabassé (cozinheira de santo) e mora no bairro de Santo Amaro, no Recife. Usuária contumaz de turbante, ela enxerga a polêmica do momento como um grande exagero: “Acho isso uma bobagem. As pessoas são livres para usar o que quiserem”, afirmou. “O turbante que eu uso no terreiro para as minhas obrigações litúrgicas é diferente do que eu uso no dia a dia. Esse é mais que um adereço que me representa; uso para não me esquecer de onde eu vim. É uma representação feminina. Uso de diferentes formas, tamanhos, modelos e cores. Dentro do candomblé, ele toma uma forma mais sóbria devido ao cargo que eu ocupo”, esclarece a cozinheira.

Carmen Virgínia completa: “Não vai ser um turbante que vai me fazer mais negra do que eu sou. E não vai ser um turbante que vai fazer com que um branco seja preto, serão as ações dele”.

A jornalista e publicitária Téta Barbosa também se posicionou sobre o tema. Em seu perfil no Facebook, falou sobre a peça da discórdia: “Isso não é um assunto novo, é uma discussão de anos. Mas acho que a única lição no momento é o tamanho da falta de empatia que as pessoas têm uma com a outra. Acho triste porque as pessoas sempre arranjam um meio de segregar as outras. Como disse em meu texto, as pessoas podem, sim, usar o que quiserem. E gostaria muito que esse turbante fosse um elo entre elas e não uma lacuna”, conclui Téta.

VOGUE

No ano passado, uma discussão semelhante veio à tona com o tema do Baile da Vogue. A revista de moda escolheu África Pop como temática e foi muito criticada. Personalidades como a cantora Luiza Possi foram apontadas por usarem, de maneira vazia, elementos da cultura negra. Embora o termo do momento não fosse empregado naquela época, a apropriação cultural pode ser inserida naquele contexto.

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