As empresas brasileiras estão procurando fazer a lição de casa nesse momento de crise. A atual conjuntura do mercado exige uma visão mais atenta sobre o ambiente organizacional e impõe a necessidade de operar de forma mais enxuta, aproveitar o máximo de seus profissionais e otimizar processos. Se tais medidas já eram indicadas em momentos de calmaria, agora, então, são essenciais.
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Um estudo realizado pela Page Personnel, empresa de recrutamento especializado de profissionais técnicos e de suporte à gestão, aponta que três em cada quatro companhias avalia a possibilidade de substituir funcionários. A pesquisa foi realizada com cerca das 500 maiores organizações do País. Segundo a consultoria, a oferta crescente de profissionais com melhores qualificações, impulsionada especialmente pelo desemprego em alta, está levando a maior parte das empresas a reavaliar o desempenho de suas equipes. O diretor da Page Personnel, Roberto Picino, explica que as companhias estão buscando otimizar ao máximo o quadro de colaboradores, priorizando aqueles que apresentem resultados satisfatórios. O desempenho fala mais alto em tempos de crise e quem não estiver se adequando às necessidades do momento pode ser mais um no radar da substituição.
“A oferta crescente de gente qualificada no mercado e essa reavaliação do quadro de funcionários que está sendo feita pede que os colaboradores sejam mais eficientes e alinhados às demandas da organização”, explica Picino. Segundo a Page Personnel, dominar um segundo idioma, mostrar conhecimento técnico apurado, proatividade, resiliência e objetivos claros são algumas das características mais buscadas nos colaboradores. Eles devem demonstrar ainda um perfil comportamental alinhado às necessidades da organização como um todo. Isso é válido tanto para os que já estão dentro, quanto para os que podem ser escolhidos para integrar o quadro de profissionais da instituição.
O levantamento realizado pela consultoria revela ainda que os profissionais estão receosos em trocar de emprego. Segundo a pesquisa, 75% deles disseram estar dispostos a ouvir novas ofertas de trabalho e participar de todas as etapas de uma seleção. Entretanto, apenas 25% desse total aceitou trocar de emprego. Para chegar a esse resultado, foram entrevistados cerca de 35 mil candidatos a emprego, de fevereiro a agosto deste ano. Esse conservadorismo por parte dos colaboradores antes de efetuar uma transição é reflexo do receio diante de um mercado instável. Eles preferem continuar no emprego atual a ter de apostar no novo e em algumas ocasiões, incerto. De acordo com a consultoria, esse comportamento está sendo observado em candidatos de todas as áreas e níveis de experiência.
“O mercado está pouco aquecido de contratações e segue se readequando. Isso faz com que os funcionários estejam mais cautelosos. Agora o momento é de analisar o trabalho desempenhado, o que seria feito em um possível novo emprego e ponderar tudo isso com muita caução”, explica o diretor da Page Personnel.
Habilidades são realçadas
A escolha de profissionais polivalentes, com competências ligadas a posturas mais flexíveis e dispostos a trazer novas ideias tem sido a estratégia adotada pelas empresas na hora de contratar e reter colaboradores. A crise intensificou essa tendência, que ganha força com a necessidade de vencer a barreira da competitividade.
Nessa tentativa de diversificar o ambiente organizacional, o mercado prioriza quem pode oxigenar o meio corporativo com ideias ou novas experiências. Segundo o especialista em planejamento estratégico de empresas, Gilson Teixeira, cada companhia é uma espécie de “miniescola”, na qual os colaboradores devem aprender e adquirir experiências em todos os setores, não só nos que atua comumente.
“Nesse momento de crise, as empresas estão tomando duas atitudes: uma é o enxugamento no quadro de profissionais, a mais drástica, e a outra é análise de quem é imprescindível naquela organização. Colaboradores mais generalistas, que podem ajudar a companhia de formas diversas e não só fazer o que sempre fazem, de forma padronizada, são os mais valorizados”, explica Teixeira. Segundo ele, alguns profissionais preferem permanecer em sua zona de conforto e se fechar no ambiente da sua bancada, fazendo o mesmo sempre.
Os que não tentam olhar para o local onde trabalham de forma diferente e não buscam identificar pontos de melhoria se tornam apenas mais um entre os demais. Utilizar experiências anteriores para trazer aperfeiçoamentos, renovar as práticas usuais e se reinventar constantemente são posturas primordiais para quem quer se manter firme diante de um período de instabilidade. “Buscar feedbacks de forma espontânea, demonstrar proatividade e tentar solucionar um problema ao invés de apenas apontá-lo são atitudes que fazem a diferença”, explica o especialista.