Após quatro quedas seguidas do dólar em relação ao real, o mercado de câmbio passou por um dia de ajuste nesta segunda-feira (11). O movimento foi apoiado pelas preocupações em torno do aperto de liquidez pelo qual passa atualmente a Grécia.
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O dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou em alta de 1,61%, cotado em R$ 3,039 na venda. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, subiu 2,27%, para R$ 3,052.
A valorização da moeda americana ocorreu também no mercado externo. Entre as 24 principais divisas emergentes, apenas duas subiram frente ao dólar dos EUA: a lira turca (+0,28%) e o dólar de Hong Kong (+0,02%). Entre as dez moedas mais fortes do mundo, somente a libra esterlina ganhou (0,85%).
Ministros das Finanças da zona do euro se reuniram nesta segunda-feira para discutir um possível acordo que traga alívio ao aperto de liquidez pelo qual passa atualmente a Grécia.
Ao final do encontro, eles elogiaram o progresso nas negociações entre a Grécia e seus credores em um acordo que liberaria mais recursos a Atenas em troco de reformas econômicas, mas afirmaram que é necessário mais trabalho para resolver as diferenças que estão bloqueando um acordo abrangente.
O ministro grego Yanis Varoufakis já afirmou que as chances de que se chegue a um acordo agora são baixas, mas o país não atrelou à essa reunião o pagamento da parcela de 750 milhões de euros ao FMI (Fundo Monetário Internacional) que vence na terça-feira (12). Uma fonte do governo grego disse à Reuters nesta segunda que o país já teria pago a parcela do empréstimo.
"O maior motivo de cautela não é se a Grécia vai conseguir pagar as parcelas do empréstimo concedido pelo FMI, mas, sim, se o governo daquele país vai acatar às duras exigências que o fundo impôs ao conceder o empréstimo. Corte na previdência, redução dos gastos públicos e outras medidas de austeridade vão contra o plano de governo do novo primeiro-ministro grego", diz Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.
JURO AMERICANO
Galhardo citou ainda que a incerteza em relação ao juro americano exerce pressão adicional ao câmbio. "Os diretores do Fed [banco central dos Estados Unidos] já afastaram a possibilidade de uma alta na taxa básica de juros daquele país antes da segunda metade deste ano, mas um aumento parece inevitável no segundo semestre", afirmou.
Uma alta do juro americano deixaria os títulos do Tesouro dos EUA -que são remunerados por essa taxa e considerados de baixíssimo risco- mais atraentes do que aplicações em mercados emergentes, provocando uma saída de recursos dessas economias. A menor oferta de dólares tenderia a pressionar a cotação da moeda americana para cima.
A atuação do Banco Central no câmbio também seguiu no radar dos investidores. Nesta segunda, a autoridade monetária brasileira rolou para 2016 os vencimentos de 8,1 mil contratos que estavam previstos para o início de junho, em um leilão que movimentou US$ 392,9 milhões. A operação é equivalente à venda futura de dólares.
Se mantiver esse ritmo até o final de maio, o BC rolará apenas 80% do lote total de contratos de swap com vencimento no início do próximo mês, que corresponde a US$ 9,656 bilhões.
CHINA
A alta do dólar ocorreu a despeito da notícia de corte nos juros da China no fim de semana pela terceira vez em seis meses. A medida do governo chinês visa estimular a economia daquele país, que é o principal parceiro comercial do Brasil.
"O corte de juros na China tem duas interpretações. Por um lado é bom, porque estimula a economia. Por outro, indica que os chineses estão realmente enfrentando problemas para manter o forte crescimento, o que é negativo para o Brasil. Menor crescimento da China implica em menos compra de matérias-primas e produtos brasileiros", disse Galhardo.
As ações preferenciais da Vale, mais negociadas e sem direito a voto, tiveram forte valorização de 2,92%, para R$ 19,05 cada uma. A China é o principal destino das exportações da mineradora brasileira.
Apesar da alta da Vale, o Ibovespa, principal índice de ações do mercado nacional, encerrou o pregão praticamente no zero a zero, com ligeiro ganho de 0,08%, 57.197 pontos. O volume financeiro foi de R$ 6,66 bilhões.
Os papéis de siderúrgicas também fecharam no azul, refletindo o corte no juros chinês. A Companhia Siderúrgica Nacional avançou 5,69%, para R$ 8,55, enquanto o papel preferencial da Usiminas ganhou 2,19%, para R$ 6,07. A Gerdau avançou 0,97%, para R$ 10,44.
Do outro lado da Bolsa, os papéis da Ecorodovias lideraram as perdas do Ibovespa, com desvalorização de 6,43%, para R$ 8,44. A companhia reportou lucro líquido de R$ 28,6 milhões no primeiro trimestre, recuo de 63% frente ao mesmo período do ano passado, afetada principalmente por uma piora no resultado financeiro, apesar do aumento do tráfego em suas rodovias.
Também em baixa, o Pão de Açúcar viu sua ação ceder 3,10%, para R$ 94,84. O Bank of America Merrill Lynch cortou a recomendação do papel para "neutra", após a divulgação do resultado trimestral na semana passada, argumentando que a pressão sobre a companhia deve continuar.